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O investimento francês em informações para a energia nuclear

Nem é preciso dizer que os ministros e mesmo os técnicos mais geniais não terão o direito de ir além da reflexão enquanto Emmanuel Macron, que se compara a Júpiter, não lançar seu raio

Por Gilles Lapouge
Atualização:

A França deve ter lido, numa noite de insônia, a admirável frase pronunciada, no século 16, pelo príncipe Guilherme de Orange-Nassau: “Não é necessário esperar para empreender, nem ter sucesso para perseverar”. Talvez por isso o país sonhe em construir seis novos reatores nucleares de terceira geração (EPR).

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É verdade que Paris detém o direito de precedência sobre esses reatores nucleares pós-modernos. Ela se lançou antes de todos os outros países nesse caminho escarpado. E aguarda os benefícios disso: primeiramente, possuir uma central nuclear inédita, começando a renovar seu conjunto de centrais que estão envelhecendo, e depois vender suas patentes e o seu know-how para outras nações.

No caso da primeira, em Flamanville (Normandia), o país começou bem cedo: as primeiras escavações começaram em 2006. Um canteiro de obras monumental, com a promessa de que a nova central estaria concluída em sete anos. Infelizmente, algumas anomalias forçaram a substituir os saltos de lebre do início. 

Um funcionário da empresa Eletricidade da França (EDF) na construção do reator nuclear de terceira geração em Flamanville, França, em 16 de novembro de 2016 Foto: Benoit Tessier/Reuters/Arquivo

Hoje, chegamos ao objetivo, mas a construção durou três vezes mais do que o tempo previsto. Um recorde. E há um segundo recorde: os preços aumentaram. A central devia custar € 3,5 bilhões. E chegamos a € 12,4 bilhões e a previsão é de se atingir os € 14 bilhões.

Os partidários dessas novas centrais nucleares oferecem um argumento indiscutível: em empreendimentos avançados e tão novos é essencial ter a experiência dos pioneiros. Portanto, é necessário construir as novas centrais uma após a outra. “É preciso utilizar esse tesouro de conhecimento antes que envelheça, pois há o risco de tudo ser esquecido.”

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Tais são as razões que impelem hoje as autoridades a iniciar imediatamente essas novas construções de centrais nucleais. Mas, no alto escalão, a afirmação é de que não se trata de “começar a escavação", mas apenas reunir informações precisas para depois tomar uma decisão sensata: ou se lançar na aventura ou deixar a ideia de lado.

Mas, nos órgãos de Estado e nos ministérios, já se trabalha duro. Os estudos prévios já estão bem adiantados. Dois ministérios já enviaram um roteiro e o projeto arquitetural da “grande obra”. Serão construídos seis reatores nucleares em pares em três locais distintos. A construção de cada reator será em espaços de quatro anos e as etapas, no caso de um mesmo par de reatores, serão espaçadas em 18 meses.

Nem é preciso dizer que os ministros e mesmo os técnicos mais geniais não terão o direito de ir além da reflexão enquanto Emmanuel Macron, que se compara a Júpiter, não lançar seu raio. Os especialistas que conhecem a mentalidade do presidente afirmam que, no fundo, esse projeto mirabolante e arriscado deve agradá-lo. No momento, ele não deseja apressar as coisas, mas ouvir os argumentos para depois tomar uma decisão séria, louca, mas prudente, ou abandonar o projeto.

E os ecologistas, a cada dia mais poderosos, detestam esses seis novos eventuais reatores. Como ousam alimentar tal ideia, ao passo que a primeira central nuclear foi um enorme “acidente industrial” – € 15 bilhões jogados no lixo. “Poderíamos desenvolver energias limpas com essa fortuna”, dizem. Essa é a argumentação dos ecologistas. Veremos sua violência quando as primeiras escavações começarem. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

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