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O joquempô entre Condorcet, Arrow e a democracia

Um dos maiores paradoxos da democracia foi formulado no século 18 pelo marquês de Condorcet

Por Helio Gurovitz
Atualização:

Um dos maiores paradoxos da democracia foi formulado no século 18 pelo marquês de Condorcet: entre três candidatos numa eleição – digamos B, C e D –, é possível que, como num jogo de joquempô, mais eleitores prefiram o candidato B ao C, o C ao D, e o D ao B. Isso impede que, na urna, seja adotada uma regra pela qual os eleitores votariam nos candidatos por ordem de preferência, pois nem sempre seria possível apontar o vencedor. É uma pena. Uma regra assim acabaria com a armadilha do voto útil, em que a escolha de um único nome força a opção pelo menos pior e obscurece a vontade da maioria. O Nobel de economia Kenneth Arrow, morto na semana passada aos 95 anos, generalizou o resultado de Condorcet. Provou que não há método eleitoral capaz de, ao mesmo tempo, respeitar a vontade da maioria, apontar um vencedor claro e evitar a armadilha do voto útil. Na prática, o melhor compromisso tem sido a eleição em dois turnos. Mas, depois da vitória de Donald Trump, dois outros vencedores do Nobel de economia, Amartya Sen e Eric Maskin, defenderam uma outra, inspirada em Condorcet e Arrow. O eleitor ordenaria os candidatos segundo sua preferência. A apuração consideraria os grupos possíveis de dois candidatos. Ganharia quem somasse o maior porcentual nos confrontos individuais, com base na preferência de todas as cédulas. Seria possível driblar a situação do joquempô adotando critérios aventados por Arrow, já usados em votações de San Francisco, Minneapolis, Texas, Austrália e Reino Unido.

Imagem de 2006 mostra o então presidente americano, George W. Bush (direita), condecorando Kenneth J. Arrow Foto: AP Photo/Pablo Martinez Monsivais

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O peso dos ilegais para o governo americano

É um mito que imigrantes ilegais nos Estados Unidos tenham um peso desproporcional sobre o sistema de benefícios sociais, revela uma nova pesquisa do Niskanen Center. O programa “food stamps”, uma espécie de Bolsa Família, fornece vale-alimentação a 47% das crianças de baixa renda que são cidadãs e filhas de cidadãos, a 43% das cidadãs e filhas de não cidadãos – e a apenas 35% das não cidadãs. O mesmo padrão se repete em outros programas sociais.

Perto do genro, perto do poder

Nascido e criado em Miami Beach, o embaixador israelense em Washington, Ron Dermer, tornou-se um dos poucos diplomatas com pleno acesso à Casa Branca. A eleição de Donald Trump o tirou da geladeira. Ele se aproximou de Jared Kushner, genro e conselheiro de Trump, e promoveu um encontro entre Trump e o líder do Mossad. Foi Dermer quem articulou o discurso do premiê Bibi Netanyahu contra o acordo nuclear com o Irã no Congresso dos EUA em 2015.

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Nazistas disseminaram o vício em drogas

O novo livro do jornalista alemão Norman Ohler sobre o uso de drogas durante o nazismo foi aplaudido por Anthony Beevor, um dos maiores historiadores da 2.ª Guerra. No livro, Ohler demonstra, com base no diário do médico particular de Hitler, que o führer era viciado em drogas injetáveis. Também conta como o uso disseminado de metanfetaminas contribuiu para o avanço da blitzkrieg nazista pela França – mas foi ineficaz na batalha pelo território mais extenso da Rússia.

É Proust ou não é? Confira no replay

Fãs do escritor Marcel Proust estão intrigados com um vídeo de pouco mais de um minuto divulgado neste mês pelo acadêmico canadense Jean-Pierre Sirois-Trahan. Recém-descoberto, o filme de 1904 traz cenas do casamento da filha da condessa Greffulhe, inspiração para Oriane de Guermantes, personagem da Recherche. Lá pelas tantas, um jovem de bigode, chapéu-coco e sobretudo cinza desce a escadaria sozinho em meio aos convidados. Sirois-Trahan argumenta, na Revue d’Études Proustiennes, que são as primeiras imagens de Proust em filme. 

Frase:

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“Não se deve confundir patriotismo com nacionalismo. Por ‘patriotismo’, entendo a devoção a um lugar e a um modo de vida particulares, que acreditamos ser os melhores do mundo, mas não queremos forçar aos outros. O patriotismo é de natureza defensiva, tanto militar quanto culturalmente. O nacionalismo, ao contrário, é inseparável do desejo por poder”. - George Orwell, escritor britânico, em texto de 1945

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