O mistério do Boeing russo em Caracas 

Segundo boatos, Venezuela teria 20 toneladas de ouro prontas para serem embarcadas 

PUBLICIDADE

Por Patricia Lara , Andrew Rosati e Bloomberg
Atualização:

O deputado José Guerra lançou uma bomba no Twitter, afirmando que o Boeing 777 da Rússia que pousou em Caracas chegou para levar 20 toneladas de ouro dos cofres do Banco Central da Venezuela. A afirmação provocou especulações e indignação. Ao questionarem como teve conhecimento do fato, Guerra não apresentou provas.

Avião russo da companhia aérea Nordwind é visto no aeroporto Simon Bolívar, em Caracas Foto: REUTERS/Andres Martinez Casares

PUBLICIDADE

Apenas mais um comentário grotesco de um deputado tentando chamar atenção para a crítica situação da Venezuela? Talvez não. Guerra é ex-economista do BC e ainda mantém contato com antigos colegas. Além disso, uma pessoa com conhecimento direto do assunto confirmou que 20 toneladas de ouro haviam sido reservadas para serem embarcadas. Valor total: US$ 8,8 bilhões, 20% dos ativos do metal na Venezuela.

Com Nicolás Maduro perdendo o controle das finanças e das reservas em razão das sanções americanas, a pergunta é quem conseguirá ter acesso ao ouro do país? A Venezuela deve bilhões à Rússia e à China, além dos detentores de títulos públicos, e necessita também de moeda forte para comprar alimentos.

O país tenta há anos aumentar suas reservas em ouro incentivando a mineração e dando ao Exército o controle da exploração. A empresa processadora de ouro, Minerven, funde o metal em barras que são levadas por aviões para bases aéreas em Caracas.

Regularmente, soldados retiram a carga dos aviões e a transferem para veículos blindados que seguem depois para o BC e além.

Na segunda-feira, um avião da Nordwind Airlines, operadora de voos charter russa com sede em Moscou, pousou em Caracas. Questionado ontem, o porta-voz da companhia não quis comentar o assunto.

O ministro venezuelano das Finanças, Simon Zerpa, também se recusou a falar a respeito, afirmando que nenhum avião russo havia pousado na Venezuela. “Vou começar a trazer aviões russos e turcos toda a semana, pois assim todos ficarão assustados”, disse.

Publicidade

“A Nordwind realiza inúmeros voos charter”, disse Oleg Panteleyev, diretor da consultora de aviação Avia Port, com sede em Moscou. “Mas, normalmente, não para a Venezuela.”

O Kremlin tem apoiado Maduro com empréstimos, investimentos e um posto avançado de influência numa região dominada pelos EUA. Mas a Rússia tem se mostrado reticente em comprometer mais capital, especialmente porque a oposição afirma que pode não honrar os compromissos de Maduro. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.