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O mundo à beira da guerra nuclear

Crise dos Mísseis, em outubro de 1962, quase levou EUA e União Soviética a um conflito atômico

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Fidel Castro, e a União Soviética de Nikita Kruchev levaram o mundo até bem perto do abismo nuclear, em outubro de 1962. No pior momento da crise de 13 dias, o Sábado Negro, um ataque americano esteve a pouco mais de cinco minutos da ordem de fogo. No final, antes que Moscou e Havana aceitassem negociar, o líder cubano foi ameaçado de morte. A situação vivida naqueles dias nunca mais se repetiu, mas o risco foi grande. As armas da URSS poderiam atingir cidades como Nova York e Washington. 

A resposta dos EUA teria sido arrasadora, não apenas contra a ilha, mas retaliando alvos estratégicos a longa distância – Moscou e Leningrado, por exemplo. O revolucionário Fidel, ainda ferido pela frustrada tentativa de invasão na Baía dos Porcos, em 1961, por dissidentes treinados pela Casa Branca, havia negociado com Khruchev um programa de fortalecimento militar de Cuba.

Líder cubano, Fidel Castro, e o líder soviético Nikita Kruchev (D) durante encontro em 1962, na URSS, no auge da crise com os EUA Foto: Reprodução

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Os especialistas designados para escolher os locais onde os mísseis seriam instalados chegaram a Havana ao longo do mês de julho, em três diferentes grupos de operadores de máquinas agrícolas, montadores de sistemas de irrigação e engenheiros agrônomos. Os soviéticos montaram nove estruturas para receber de 32 a 42 balísticos. A primeira leva foi posta em terra na noite de 8 de setembro.

As informações de inteligência começaram a aparecer logo em seguida. Os primeiros relatórios citavam imensos caminhões de muitas rodas transportando estranhos tubos metálicos, tão longos que não podiam circular pelas ruas dos vilarejos. Em certos casos era preciso abrir espaço com tratores. 

Depois, as pessoas comentavam as áreas cercadas, isoladas, controladas pelo Exército e por soldados estrangeiros. A confirmação viria por meio das fotos tomadas pelos aviões U-2, de espionagem, mostrando as armas, os sistemas defensivos e o material logístico. Um jato U-2 acabou sendo abatido no espaço aéreo cubano no dia 27 de outubro. O piloto morreu.

Foi o suficiente para que o presidente John Kennedy considerasse inaceitável a presença das ogivas atômicas a menos de 150 km dos EUA. Os mísseis soviéticos SS-4 eram uma ameaça real. A CIA sabia que Khruchev havia despachado suas armas mais eficientes – os SS-4 de médio alcance chegavam até seus objetivos, diferentemente das versões maiores, intercontinentais, pouco confiáveis. Eram gigantes de 22 metros e 40 toneladas, armados com uma ogiva nuclear de 2 megatons, capazes de cobrir com precisão até 2.800 km.

Seria uma tragédia. Um ataque lançado de determinados pontos poderia atingir, além das maiores cidades americanas, também as médias, como Chicago ou Atlanta, além de torrar Miami até os alicerces. Mais tarde, em 1963, uma análise da inteligência confirmava que a versão do SS-4 transferida para Cuba era de segunda geração, com raio de ação mais longo e guiagem inercial autônoma, a melhor tecnologia da época.

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A moeda de troca oferecida pelo presidente Kennedy era falsa. Khruchev e Fidel só concordavam em remover os SS-4 se os EUA oferecessem, em sacrifício, uma presa do mesmo porte. Foram colocados na mesa 30 mísseis Júpiter; 15 deles alinhados em Esmirna, na Turquia, e outros 15 em Giogia del Cole, na Itália. Era uma arma obsoleta, definida pelo Pentágono como “exigindo um desenvolvimento profundo”. A frota foi retirada de linha em 1963.

O Estado-Maior americano sugeriu a JFK uma resposta de alto risco: bombardear as baterias de mísseis previamente mapeadas pelos jatos U-2 e, simultaneamente, infiltrar um time de forças especiais para matar Fidel, facilitando a invasão da ilha. 

Kennedy autorizou a mobilização inicial. Ficou nisso. No dia 28 de outubro, Kruchev cedeu. Os mísseis saíram de Cuba, da Turquia e da Itália. Ficou decidida a criação do “telefone vermelho” para contato direto entre a Casa Branca e o Kremlin em situações de confronto. Foi uma vitória sem comemoração. Tomado por violentas dores na coluna, o presidente não fez festa: quando a notícia chegou, estava no ambulatório da Casa Branca, recebendo doses de analgésicos opiáceos, segundo depoimento da primeira-dama, Jackie Kennedy. 

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