
02 de setembro de 2018 | 06h00
Ele tem 45 anos, tocou baixo numa banda punk na juventude, lembra um pouco o ator James Stewart e hoje desafia um bastião republicano nos Estados Unidos: o Texas. Beto O’Rourke, deputado e candidato democrata ao Senado, está na cola do favorito Ted Cruz, num Estado onde republicanos não perdem há mais de 30 anos.
Mesmo que O’Rourke perca, já desperta comparações com o senador eleito presidente há dez anos, Barack Obama. Entre os democratas, é mais popular que senadores e governadores. Os pré-candidatos Bernie Sanders, Joe Biden e Elizabeth Warren terão todos mais de 70 anos em 2019. Desde Lyndon Johnson, só jovens democratas chegaram à presidência: Jimmy Carter (52), Bill Clinton (46) e Obama (47). Por que não O’Rourke?
Nascido na fronteiriça El Paso e fluente em espanhol, ataca a política migratória de Donald Trump, o muro, o “conluio” com Vladimir Putin, fala em mudanças climáticas, salário dos professores, custo de vida dos aposentados e imprensa livre. “Gente razoável pode discordar”, afirma num vídeo visto mais de 44 milhões de vezes, defendendo o direito dos jogadores de futebol americano de se ajoelhar em protesto durante o hino nacional.
Sua vida se complicou com a denúncia de que, aos 26 anos, tentou fugir depois de bater o carro bêbado (ninguém se feriu). Ele pediu desculpas. Compartilha toda a campanha nas redes sociais, dispensa o conselho de marqueteiros e fala o que lhe dá na telha. “Nem fazemos pesquisa”, contou O’Rourke à Vanity Fair. “Que temos a perder?”
A alvo do acordo americano com o México não é o Canadá, mas a China. Submetido aos canadenses sem margem para mudança, ele endurece as regras para definir a origem de produtos. Para um carro ser considerado interno ao bloco, 75% das peças deverão ser produzidas nele, metade por operários que ganham ao menos US$ 16 por hora. Será um golpe na indústria mexicana de autopeças, onde a remuneração média é US$ 2,30. Mas outros produtos terão de trocar componentes importados da China por fabricados no bloco. Vantagem para os mexicanos, cuja indústria compete mais com a chinesa que com a americana.
Um ano atrás, o Google demitiu um funcionário que criticou o cerceamento de opiniões conservadoras na empresa. No último dia 20, Brian Amerige, funcionário do Facebook e admirador da libertária Ayn Rand, publicou uma mensagem conclamando colegas de direita a formar um grupo para combater a falta de “diversidade política” no trabalho. “Afirmamos abraçar todas as perspectivas, mas atacamos - não raro como manadas - qualquer um que apresente uma visão que parece oposta à ideologia de esquerda”, escreveu. A iniciativa reuniu mais de cem funcionários.
Não só nos Estados Unidos conservadores sofrem nas universidades. No King’s College, em Londres, um debate com direitistas foi interrompido em março por bombas de fumaça. A faculdade depois cancelou até uma palestra sobre liberdade de expressão. Segundo o Free Speech University Ranking, 54% das faculdades britânicas praticam alguma forma de censura.
A “mídia conservadora” é a principal responsável pela propagação de notícias falsas, afirma um novo livro dos juristas Yochai Benkler, Robert Faris e Hal Roberts. Com base na análise de milhões de conteúdos digitais, tuítes e compartilhamentos, eles concluem que “o ecossistema da mídia de direita” é mais suscetível a “desinformação, mentiras e meias-verdades”.
Entre a fundação, em 1955, e o fim, na última sexta-feira, o Village Voice marcou era e abrigou talentos como Norman Mailer. Foi no Voice que o repórter Wayne Barrett publicou, em janeiro de 1979, as primeiras denúncias de racismo na seleção de inquilinos, nos prédios de um jovem empreendedor imobiliário chamado Donald Trump.
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