O novo papel de Schwarzenegger: governar a Califórnia

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Por Agencia Estado
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O ex-actor Arnold Schwarzenegger toma posse segunda-feira como governador da Califórnia, numa cerimónia que quis modesta, face às dificuldades financeiras que o Estado atravessa e à devastação provocada pelos recentes incêndios. Aos 56 anos, o ator conhecido como o "Exterminador" (personagem cinematográfica que o popularizou em todo o mundo) substituirá nos comandos da Califórnia o democrata Gray Davis, afastado do cargo na seqüência de um raro processo de destituição visando um governador, o segundo desde 1921. Apesar da sucessão de escândalos que teve que enfrentar durante a campanha eleitoral, ganhar as eleições - com 48,7 por cento dos votos - foi tarefa fácil para Schwarzenegger, se comparada com a empreitada que terá pela frente no momento em que despir a "pele" de intrépido combatente das telas e vestir o terno e a gravata de governador. Analistas e observadores políticos são unânimes em considerar que o ator norte-americano de origem austríaca vai agora enfrentar a dura realidade de governar - sem qualquer tipo de experiência política - um dos Estados mais populoso dos Estados Unidos. A Califórnia, considerada a quinta economia do mundo, atravessa atualmente a maior crise orçamental da sua história e, no próximo ano, já com Arnold Schwarzenegger no seu gabinete de governador em Sacramento, terá de começar a amortizar os seus 8.000 milhões de dólares (6,7 mil milhões de euros) de dívida. Durante a campanha eleitoral, Schwarzenegger prometeu não aumentar os impostos e acabar com as impopulares taxas sobre veículos decididas pelo seu antecessor, o que diminui ainda mais a sua margem de manobra. Ross DeVol, director do departamento de estudos regionais do Instituto Milken (um centro de estudos em Santa Mônica), resumiu recentemente a dimensão da tarefa que espera Schwarzenegger: "Todos os problemas orçamentais que se possam escrever numa folha de papel existem atualmente na Califórnia". Queda de rendimentos do governo estadual e do "rating" (notação financeira) dos títulos do tesouro da Califórnia, empresas abandonando o Estado em número recorde devido aos impostos e custos sociais, além do défice orçamental, são problemas a que o ex-ator terá de enfrentar. Analistas políticos ressaltam que as leis da Califórnia tornam muito difícil ao novo governador e equipe imporem a sua vontade, uma vez que qualquer orçamento tem de ter a aprovação de dois terços das duas câmaras estaduais, dominadas pelos democratas. Além disso, leis aprovadas em referendos anteriores reduzem a capacidade dos legisladores decidirem sobre alguns aspectos orçamentais. Republicano moderado, Schwarzenegger gosta de lembrar que a sua mulher pertence à família Kennedy, pelo que não vê problemas em negociar com os liberais do Partido Democrático e de procurar o consenso. Um discurso que irrita muitos republicanos conservadores, para quem as posições "centristas" do ator em questões sociais como o aborto ou a ajuda aos imigrantes são vistas quase como uma "traição". Para Ted Lascher, da Universidade Estadual da Califórnia, o novo governador "vai ter de gastar muito do seu capital político" para conseguir o apoio dos legisladores. A sua capacidade de negociair é ainda dificultada pelo fato de muitos democratas estarem contra a decisão do Partido Republicano de recorrer a uma lei poucas vezes usada para convocar o referendo sobre a impugnação do seu antecessor, o governador Gray Davis, apenas 11 meses depois de este ter sido reeleito para o cargo. Alguns democratas falam abertamente em "esperar uns meses até Arnold estar em dificuldades, para então usar a mesma lei para o afastar do poder". Douglas Schoen, um especialista em sondagens que trabalhou para o antigo presidente Bill Clinton, disse que o referendo e eleição de Schwarzenegger acabaram com a possibilidade de se "construir uma política baseada no consenso". "O que existe agora na Califórnia é uma política de terra queimada", disse recentemente Schoen ao New York Times.

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