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O ostracismo de De La Rúa, Cavallo e Menem

Por Agencia Estado
Atualização:

Ventre protuberante, sem camiseta, de bermudas. Um desalinhado chapéu de palha cobrindo a crescente careca. Assim, o ex?presidente Fernando De la Rúa (1999-2001) foi fotografado nesta semana pela revista ?Gente?, enquanto caminhava pelos jardins de sua chácara no município de Pilar. Ontem (quarta-feira), completaram-se dois meses de sua renúncia, quando ? depois de um panelaço, saques a supermercados, e mais de duas dezenas de mortos em choques com a polícia - deixou a Casa Rosada em um helicóptero, para escapar da fúria da empobrecida classe média portenha, que pretendia invadir o palácio presidencial, pedindo sua cabeça. Desde a renúncia, De la Rúa permaneceu longe da imprensa e fora do alcance dos manifestantes, recluso em sua chácara. Por ordem judiciária, está proibido de sair do país. Além disso, está a ponto de ser expulso de seu partido, a centenária União Cívica Radical (UCR). Seu poder político, atualmente é nulo, assim como sua popularidade. Nenhuma liderança política o visita, já que ser visto com ele é perder credibilidade. Sua esposa, Inés Pertiné, praticamente não fala com ele. Amigos do casal afirmam que dormem em quartos separados e que a crise matrimonial seria irreversível. Aristocrática, filha de um militar e neta de um ministro da Guerra que nos anos 30 tinha posições declaradamente pró-nazistas, Inés não estaria suportando a clausura que a conjuntura social lhe impõe. ?Eles brigam por qualquer motivo?, afirmam amigos do casal. Para fugir do clima de tensão que paira na chácara, há poucas semanas De la Rúa foi até um supermercado à beira da estrada para fazer compras. Depois de flanar pelas gôndolas, o ex?presidente teve que deixar o supermercado, quando os outros clientes ? indignados com sua presença no local - foram até a seção de utensílios domésticos para pegar panelas e realizar um panelaço na sua frente. Enquanto isso, seus filhos planejam sair da Argentina. O caçula, Fernando ?Aíto?, pretende mudar-se para o Brasil, para instalar-se na área de internet. O mais velho, Antonio, passa a maior tempo em Miami, onde mora com a cantora colombiana Shaquira. Famoso por sua frivolidade, a presença dele no último clip da namorada causou fúria na Argentina. A chácara de De la Rúa, paradoxalmente, tem o nome de ?La Esperanza? (?A Esperança?). ?El Pelado? Quando Domingo Cavallo, voltou em março do ano passado ao cargo de ministro da Economia, que havia ocupado entre 1991 e 1996, foi recebido como ?El salvador de la patria? (?O salvador da pátria?). Chamado carinhosamente de ?Mingo? (diminutivo de Domingo), o ministro parecia que tiraria o país do caos financeiro, social e econômico no qual estava afundado. Mas o caos de março rapidamente pareceria um paraíso, e Cavallo perdeu velozmente os apelidos elogiosos para ser chamado de ?El maldito pelado? (?O maldito careca?). No início da madrugada, na virada dia 19 de dezembro para o 20 de dezembro, Cavallo foi ?renunciado? por De la Rúa, pressionado por um inusitado panelaço feito pela classe média. Dali para cá, Cavallo sofreu constantes protestos populares na frente de seu edifício, na esquina da elegante San Martín de Tours e Figueroa Alcorta. Com a vigilância acirrada dos argentinos que ficaram presos dentro do ?corralito? ? denominação aplicada ao semi-congelamento de depósitos bancários criado por Cavallo ? e a proibição judicial de sair do país, o ex?ministro teve que resignar-se a ficar trancado dentro de sua casa. Ele já não recebe convites para as inúmeras reuniões empresariais que até o passado recente o tinham como estrela. No entanto, afirmam seus assessores, ?El Mingo? trancafiado em seu apartamento é como uma fera enjaulada. Eternamente hipercinético, Cavallo está preparando um rancoroso livro contando os bastidores do governo De la Rúa, incluíndo os trágicos dias finais. Enquanto o pai da finada conversibilidade econômica bate nas teclas do computador, sua esposa e fiel escudeira Sônia vai às compras com uma peruca preta e óculos escuros. Camuflada desta forma, envia seu chofer à sua vanguarda nas lojas, para verificar a existência de eventuais populares que possam ser hostis com sua presença. ?El turco? O ex?presidente Carlos Menem também passa, a contra-gosto, por uma etapa de extrema discrição. ?El Turco?, como é conhecido popularmente, sempre desfrutou do exuberante convívio social que o poder lhe permitia. Mas hoje, deve viver em um semi-exílio entre sua província natal, La Rioja, e o Chile, terra de sua esposa, a ex?miss Universo, Cecília Bolocco. La Rioja, feudo político sob férreo controle de Menem, é o único lugar do país no qual o ex?presidente pode ter a certeza que não será cenário de panelaços contra ele. No outro lugar seguro, o Chile, é visto como uma figura pitoresca que se casou com uma das estrelas locais. Menem não possui casa própria, já que ?La Rosadita?, mansão que construiu durante seu governo, permanece nas mãos de sua filha, Zulemita, que oficialmente é a proprietária da residência. Por este motivo, instalou-se provisoriamente na residência do governador da província. Fontes ?menemistas? relataram ao Estado que ?Chechu?, apelido familiar de ?la? Bolocco, ?está podrida? (?está farta?) de permanecer na provinciana La Rioja, onde há pouca diversão local, mais além de olhar para a eternamente imóvel cordilheira dos Andes. Menem até mudou com sua semi-reclusão. Nesta semana, disparou ácidas críticas contra o presidente Eduardo Duhalde, afirmando que era ?inepto?. Pouco depois, pediu desculpas, atitude pouco freqüente em seu comportamento. No meio da turbulência política que agita o país há dois meses, Menem teve pouco protagonismo, já que cada vez controla menos parlamentares. Seu status de caudilho do Partido Justicialista (Peronista), ficou restrito à sua província.

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