Oficialmente, a Lei Seca americana tem nome: "Volstead Act". O pai do proibicionismo era o deputado republicano Andrew Volstead, de Minnesota. Foi ele que redigiu o texto histórico que confiscava cerveja, vinho e uísque de todos os americanos. Por isso, durante anos, recebeu milhares de cartas furiosas de beberrões dos quatro cantos do país. "Vá para o inferno, seu maldito preguiçoso!", escreveu um homem em um cartão postal de 1921. "Quem, em nome de Deus, desperdiçaria uma bala boa, um golpe de faca ou mesmo um copo de cicuta com um espécime tão desprezível como o verme Andrew J. Volstead?", disse outro.
As cartas estão hoje no arquivo da Sociedade Histórica de Minnesota. Volstead pode até ter ficado para sempre atrelado à lei, mas passou o resto da vida tentando se desvencilhar da imagem de desmancha-prazeres. Ele queria ser lembrado por outras razões, como outro projeto de lei, de 1922, que permitia que associações de agricultores comercializassem coletivamente seus produtos e fossem isentas de certas obrigações.
Mas não deu. Em 1926, a revista Time resumiu seu legado de maneira cruel: "Deve ser doloroso para um homem se tornar um mito antes mesmo de morrer".
Volstead nasceu em 1860, filho de imigrantes noruegueses. De advogado de uma cidade pequena se tornou um dos deputados mais poderosos do Congresso, como presidente da Comissão de Justiça da Câmara, em 1919, ano em que a 18ª Emenda foi ratificada – a lei havia sido aprovada em 1917 com apoio esmagador de todos os partidos.
Na prática, a Lei Seca inaugurou uma era tumultuada de contrabando e bebidas adulteradas em banheiras de fundo de quintal. De acordo com a Sociedade Histórica de Minnesota, Volstead não tinha escolha. Como presidente da Comissão de Justiça da Câmara, era tarefa dele redigir o texto.
Volstead nunca foi abstêmio ou religioso, mas acreditava na causa. "Não tenho simpatia pelo tipo de liberdade que os bêbados desejam. Liberdade para restaurar o bar e cuidar do bordel", disse o deputado no Congresso. "Liberdade para lucrar com o sofrimento e a insanidade. Liberdade para gratificar o hábito de beber álcool em detrimento de lares arruinados e vidas desperdiçadas – nada disso são direitos inalienáveis."
Depois que a Lei Seca foi aprovada, Wayne Wheeler, advogado da Liga Antibar, parabenizou Volstead pelo trabalho, por tornar a "Proibição uma realidade", em carta de 17 de janeiro de 1920. Ele prometeu que o país "seria cada vez mais grato" nos próximos anos". Nunca foi.
Vostead foi acusado de tudo. De ter um conluio com a Coca-Cola e de beber escondido. Uma pintura da época causou alvoroço ao retratá-lo ao lado de Jesus no casamento de Caná – história bíblica em que Jesus transformou água em vinho. "Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem", dizia a inscrição.
E as cartas não paravam de chegar. Alguns, pediam que ele mudasse de ideia. "Tenha a gentileza, por favor, de ajudar as pessoas boas a tomar uma cerveja?" Havia também ameaças de morte. Volstead guardou recortes de jornal com sua foto embaixo de manchetes que diziam: "Aqui está o homem cuja lei secou os EUA". "Quando alguém sai por aí defendendo um mundo livre do álcool", escreveu outro, "você pode apostar que ele bebe muito."
O deputado ficou desapontado com sua imagem na imprensa e perante o público. Em março de 1920, quando a lei ainda dava os primeiros passso, Volstead escreveu aos editores do St. Paul Pioneer Press e do Baltimore Sun exigindo retratações por um artigo que o retratava como um "alcoólatra que bebia secretamente".
Em 1922, o depuado não foi eleito – apenas dois anos após a Lei Seca entrar em vigor. Ele se tornou consultor jurídico do Departamento Nacional de Repressão ao Álcool e caiu no ostracismo. Sempre evitou entrevistas e recusava convites para palestras.
Em 1971, um perfil de Volstead no extinto Midland Cooperator contou que ele "se sacrificou em nome da Proibição", morrendo em 1947 "amargurado" por seu legado como "caricatura do movimento proibicionista". "O que o público sabia dele, mesmo que erroneamente, deixou de ser importante em 1933, quando a Lei Seca foi revogada ", escreveu o jornal. "Mas Volstead virou sinômimo de repugnância na mente de muitos contemporâneos."
Em novembro de 1933, poucas semanas antes da revogação da Lei Seca, Volstead refletiu sobre a vida em entrevista ao New York Times. Ele sabia na ocasião que qualquer coisa que ele falasse deixaria todo mundo louco. "Se eu dissesse que a Lei Seca foi um erro, provocaria uma gritaria absurda", disse. "E, se defendesse a proibição, seria perseguido pelo outro lado."