Aos 44 anos, ele conseguiu trocar dinheiro com “grupos armados radicais” e partiu rumo à Europa. Levou cerca de 12 mil euros para pagar os traficantes, comer e começar uma nova vida. Três semanas depois, chegou à Áustria com apenas 72 euros.
“Perdi tudo pelo caminho”, contou o arquiteto, exausto e desiludido. “A cada trecho, tínhamos de pagar aos traficantes. Não queria morrer em um caminhão, então gastei mais”, explicou. “Essa é a ironia dessa guerra. Vão sair da Síria e sobreviver aqueles com dinheiro. Os pobres são os primeiros a morrer, até mesmo pelo caminho.”
Mohamed conta que também perdeu “muito dinheiro” quando foi assaltado na Sérvia. “Às vezes, tenho a impressão de que a maldade é maior que qualquer outra força. Como alguém pode roubar um refugiado?” Mas é da Hungria que ele guarda os piores sentimentos. “Foi um pesadelo. O governo húngaro não é humano. Não imaginava que alguém poderia ser assim na Europa, tão rica.” Questionado se ele não via a chegada à Áustria como um novo recomeço, respondeu: “Não sei. O que não perdemos na guerra, perdemos na viagem. Perdemos tudo, até um pouco de nossa humanidade”.