O primeiro ano de governo de Alan García

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Por Abraham F. Lowenthal
Atualização:

Alan García iniciou seu segundo mandato como presidente do Peru em 28 de julho do ano passado como uma escolha considerada um "mal menor". Uma maioria eleitoral mínima apoiou García, aterrorizada com a perspectiva de que o forasteiro Ollanta Humala, que contava com o respaldo de fortes maiorias de peruanos insatisfeitos no sul e leste do país, chegasse ao poder. Anunciado como um salvador messiânico na primeira vez em que foi eleito (em 1985), depois lançado em profundo descrédito após um desastroso período de colapso econômico e violência crescente no final da década de 1980, García reconquistou a presidência em 2006 prometendo "uma mudança responsável". Ele separou nitidamente a diferença entre o eleitorado do seu próprio partido, que exigia reformas, e um eleitorado mais conservador, partidário de Lourdes Flores Nano no primeiro turno da eleição e que apoiou sua eleição quase unanimemente embora tampando o nariz. Assim, quando García assumiu a presidência, as expectativas da população eram baixas. Mais de 47% do eleitorado tinha apoiado Humala como uma alternativa contra o sistema. As preocupações dos peruanos eram se García repetiria as políticas econômicas populistas do seu primeiro governo; se formaria seu gabinete em torno do partido e da lealdade pessoal ou se recrutaria um gabinete qualificado de políticos independentes e tecnocratas, se seria afligido por demônios pessoais do capricho e da arrogância, se seria capaz de ampliar seu prestígio político para permitir fortes iniciativas governamentais e se estaria disposto (e capaz) de confrontar o cisma entre o setor moderno do Peru e os que estavam fora dele. Hoje há respostas positivas a várias das primeiras dessas questões, mas não para as duas últimas. García recrutou um gabinete respeitado e competente, incluindo uma equipe econômica de tecnocratas experientes que contam com a confiança do investidor nacional e internacional e das comunidades financeiras. Deu continuidade às políticas econômicas e fiscais ortodoxas conduzidas pelos dois governos anteriores. Essas políticas têm contribuído, juntamente com o surto de crescimento internacional das commodities, para uma taxa anual de crescimento do país de mais de 8%, para a expansão das reservas e a contenção das pressões inflacionárias. A bonança na construção e no varejo está se espalhando a partir de Lima para várias regiões subjacentes. O setor exportador do Peru que não tinha tradição, particularmente em legumes e frutas, está crescendo a um ritmo impressionante. Os investimentos em mineração e as exportações também estão aumentando. No plano político, García tem mantido a iniciativa. Vem tentando converter protestos, manifestações e greves das últimas semanas em vantagem política para si, reafirmando a autoridade nacional contra os retrógrados membros ultra-esquerdistas do Sindicato dos Professores, que desfrutam de grande popularidade. Nos primeiros meses da sua administração, García obteve índices de aprovação de mais de 60%. Como o cumprimento de muitas de suas promessas tem sido lento e muitas vezes ineficaz, esses índices vêm caindo para a casa dos 40% - e, agora, são inferiores ao seu índice de desaprovação. Para ser justo, é mais fácil anunciar grandes obras e dispêndio descentralizado do que implantar essas iniciativas, particularmente com instituições públicas e capacidades administrativas fracas, mas a queda no prestígio de García é preocupante. A maior dúvida em relação ao governo de García é se ele pode fazer algo significativo para confrontar a crescente divisão entre o Peru que está ganhando com a globalização e a outra metade do país, ainda atolada em profunda pobreza. Os elementos deslocados, excluídos e alienados da população peruana foram unidos, por um breve momento, pela campanha de Humala. Humala está quase autodestruído como líder político, portanto García não enfrenta uma figura de oposição galvanizadora. Porém, falta ao Peru a ameaça iminente que pode ter forçado um enfoque mais persistente e agressivo nas terras altas andinas, na selva ocidental e na maioria insatisfeita. Se Alan García continuar a privilegiar táticas imediatas em detrimento de uma estratégia nacional de longo prazo, tende a deixar o maior problema do Peru apodrecer.

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