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O que é verdade, exagero ou falso no discurso de Trump no Estado da União

Checagem de fatos analisa os principais pontos da fala do presidente americano ao Congresso dos EUA

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Por Redação
Atualização:

O presidente americano, Donald Trump, fez na noite da terça-feira 5 o seu segundo discurso sobre o Estado da União, ritual tradicional em que o chefe do Executivo presta satisfação aos Poderes do Legislativo.

Em seu discurso, ele abordou a situação econômica do país, falou sobre a necessidade de ter um muro na fronteira com o México, mais famosa promessa de campanha, e comentou sobre os acordos nucleares com o Irã e Coreia do Norte.

Donald Trump faz discurso sobre o Estado da União Foto: Doug Mills / POOL / AFP

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Abaixo, veja a checagem dos principais trechos do seu discurso:

"Nós criamos 5,3 milhões de novos postos de trabalho e, mais importante, adicionamos 600 mil novos empregos à indústria"

Trump costuma inflar os números de trabalhos criados sob a sua presidência ao contabilizar os dados desde o dia da eleição, ao invés do momento em que prestou juramento. Desde janeiro de 2017, segundo o Escritório de Estatísticas do Trabalho, foram criados 4,9 milhões de novos empregos, dos quais 436 mil são referentes à indústria.

É um impressionante número para quase dois anos. Sob Barack Obama, cerca de 900 mil postos de trabalho foram criados desde 2010, logo depois da crise econômica de 2008. Além do mais, apesar dos ganhos, o número de carteiras assinadas na indústria é de ainda quase 1 milhão, abaixo do nível do anterior à crise econômica, em dezembro de 2007.

"Salários estão aumentando no maior ritmo em décadas"

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Salários cresceram cerca de 3,1% de dezembro de 2017 para o mesmo período do ano seguinte, de acordo com o Departamento Trabalhista de Custo de Vida para trabalhadores civis, sem levar a inflação em consideração. Esse é o maior aumento (sem ajuste inflacionário) desde o ano de 2008.

Mas, ajustando a inflação, salários para todos os trabalhadores cresceram 1,3% de dezembro de 2017 para 2018, sendo o maior aumento desde agosto de 2016, segundo o departamento.

"Uma em cada três mulheres é sexualmente assediada na longa jornada para o norte"

A Casa Branca atribuiu uma estimativa de uma em cada três pessoas, tirada de um relatório de 2017 do Médico sem Fronteiras. Mas esse número é menor do que parece.

O relatório do MSF diz que não conduziu uma pesquisa aleatória que poderia ser aplicada a todas as mulheres imigrantes. Em vez disso, o grupo entrevistou quase 500 pessoas tratadas pelos médicos, das quais 12% eram mulheres.

Então, as estatísticas são derivadas das experiências com 56 mulheres, e não podem ser necessariamente representativas de todas as imigrantes.

"A situação caótica na fronteira do sul é uma ameaça à segurança e ao bem-estar financeiro de todos os americanos. Nós temos o dever de criar um sistema imigratório que protege as vidas e trabalhos dos nossos cidadãos."

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Não existe, em qualquer medida, uma nova crise de segurança na fronteira.

Apreensões de pessoas tentando cruzar a fronteira atingiram recentemente 1,6 milhão em 2000 e têm caído desde então, chegando a menos de 400 mil no ano fiscal de 2018. A queda é devido às mudanças de tecnologia, penas mais duras após os ataques terroristas de 11 de Setembro, uma queda nas taxas migratórias do México e um aumento no número de agentes da Patrulha na Fronteira.

O ano fiscal de 2018 foi de quase cerca de 300 mil apreensões na fronteira do México-EUA para 2017, o menor nível em mais de 45 anos.

"Trabalhadores americanos pagam o preço pela imigração ilegal -- trabalhos reduzidos, salários mais baixos, escolas lotadas, hospitais tão cheios que você não pode entrar, aumento do crime e uma exaurida rede de segurança"

Trump exagera as conexões entre o crime e a imigração. Quase todas as pesquisas mostram que os imigrantes ilegais ou legais tendem a cometer menos crimes do que a população nativa.

De modo geral, economistas afirmam que a imigração tende a afetar mais os trabalhadores americanos menos escolarizados, o que desproporcionalmente inclui homens negros e imigrantes recém-chegados com pouca escolaridade, como os latinos.

O consenso entre as pesquisas é que o impacto é primariamente positivo para a rede econômica e de trabalhadores nos EUA, especialmente a longo prazo. De acordo com um estudo de 2016 da Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina sobre os impactos econômicos no sistema imigratório dos EUA, "o aparente resultado paradoxal que, embora um maior fluxo imigratório gere um alto número de taxas de desemprego em alguns setores, a taxa de desemprego para trabalhadores nativos cai, de modo geral."

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"Para garantir que essa ditadura corrupta nunca adquira armas nucleares, eu tirei os Estados Unidos do desastroso acordo nuclear com o Irã"

Embora algumas partes do plano de ação conjunto estejam caducando, gradualmente permitindo que o Irã consiga mais energia nuclear, o acordo inclui essa restrição permanente: "Irã reafirma que sob nenhuma circunstância vai procurar, desenvolver ou adquirir quaisquer armas nucleares." No último mês, a diretora da CIA, Gina Haspel, testemunhou diante o Congresso que o Irã estava tecnicamente em cumprimento com os termos do acordo.

"Se eu não fosse eleito presidente dos Estados Unidos, nós estaríamos, agora mesmo, em minha opinião, em uma guerra contra a Coreia do Norte"

Trump exagera a possibilidade de guerra, que foi aumentada pela sua própria retórica.

O presidente indica que a Coreia do Norte abandonou suas atividades nucleares desde que ele e Kim Jong-un assinaram uma vaga declaração sobre desnuclearização em junho de 2018. Mas, segundo especialistas, imagens de satélites indicam que a Coreia do Norte continua a desenvolver um programa nuclear.

O Washington Post noticiou que agências de espionagem americanas notaram sinais de que os norte-coreanos construíram novos mísseis em uma fábrica que produziu os primeiros mísseis balísticos capazes de atingir os EUA.

Embaixada da Coreia do Norte em Hanói, no Vietnã, que também abriga diplomacia americana e sediará encontro de Trump e Kim Foto: Manan VATSYAYANA / AFP

“Dezenas de milhares de americanos inocentes são mortos por drogas letais que cruzam a nossa fronteira e inundam as nossas cidades, incluindo metanfetamina, heroína, cocaína e fentanil.”

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A maior parte das drogas que chegam aos EUA de fato vem pela fronteira com o México. Mas um muro não estancaria o fluxo, já que muitas delas vêm por portos de entrada legais ou túneis subterrâneos. Trump mencionou metanfetamina, heroína, cocaína e fentanil, mas deixou de citar que o índice de mortos por abuso de drogas é atribuído a overdoses de drogas prescritas, o que é maior que as overdoses de cocaína e heroína juntas.

“A gangue selvagem MS-13 agora opera em no mínimo 20 Estados americanos diferentes e eles chegam quase todos pela fronteira do sul. Nós estamos removendo esses membros das gangues em milhares, mas até reforçarmos a nossa fronteira, eles vão continuar voltando.”

Trump mencionou os 20 diferentes Estados, mas especialistas dizem que o MS-13 está concentrado em três áreas: Los Angeles, Long Island e no Distrito Federal de Washington.

A sua afirmação de que membros do MS-13 estão sendo removidos “aos milhares” é dúbia. A administração Trump deportou centenas de membros da gangue por ano. A Polícia de Imigração e Alfândega dos EUA diz que deportou 1.332 membros da gangue no ano fiscal de 2018, e cerca de outros mil no anterior, incluindo parte da administração Obama.

O presidente Donald Trump no Salão Oval, na Casa Branca, em Washington D.C. Em entrevista ao The New York Times, presidente não descarta acionar emergência nacional para obter verbas para muro na fronteira com México. Foto: Washington Post photo by Jabin Botsford.

“Todos os americanos podem estar orgulhosos de que nós temos mais mulheres no mercado de trabalho do que nunca antes”

Como número bruto, isso estava correto em dezembro (caiu um pouco em janeiro), mas reflete mais o aumento da população americana. O número médio de trabalhadores também está alto. A figura mais relevante (a taxa de participação de mulheres no trabalho) não está em um recorde. Está em 57,5%, bem abaixo dos 60,3% atingidos em abril de 2000./ WASHINGTON POST

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