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O que foi o massacre de Tulsa e sua importância na história americana

Em 1921, o Bairro de Greenwood era uma comunidade de grandes possibilidades e prosperidade construída por negros e para negros, mas tudo foi devastado por chamas 

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Por Redação
Atualização:

TULSA, EUA - Em 1921, o Bairro de Greenwood, na cidade americana de Tulsa, era uma comunidade de grandes possibilidades e prosperidade construída por negros e para negros, com locais para se trabalhar, morar, estudar, fazer compras e brincar. E tudo foi devastado por chamas. 

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Em maio de 1921, Greenwood era um antídoto contra a opressão racial da época. Construída no início do século em uma região ao norte da cidade, era uma próspera comunidade com comércio e vida familiar para seus cerca de 10 mil residentes. Casas de tijolos e madeira pontilhavam a paisagem, junto com quarteirões repletos de supermercados, hotéis, boates, salões de bilhar, teatros, consultórios médicos e igrejas.

Greenwood era tão promissor e tão vibrante que se tornou o lar do que era conhecido como Black Wall Street dos EUA, em uma analogia à famosa rua de Nova York. Mas o que levou anos para ser construído foi apagado em menos de 24 horas pela violência racial - com mortos sendo enviados para valas comuns e alterando para sempre as árvores genealógicas.

Mãe e filha diante de mural que conta a história do massacre de Tulsa Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Um jovem afro-americano foi preso após ser acusado de agredir uma mulher branca. Um grupo de homens de sua comunidade saiu para defendê-lo, enfrentando centenas de manifestantes brancos. Em uma atmosfera tensa, tiros foram disparados e os afro-americanos fugiram para seu bairro de Greenwood. No dia seguinte, ao amanhecer, brancosiniciaram os ataques. 

Centenas de residentes de Greenwood foram brutalmente mortos, suas casas e negócios, destruídos. Eles foram vítimas de uma multidão de saqueadores e incendiários furiosos e fortemente armados. Um fator que impulsionou a violência: o ressentimento em relação à prosperidade negra encontrada quarteirão após quarteirão de Greenwood.

O preço financeiro do massacre é evidente na estimativa de US$ 1,8 milhão em reivindicações de perda de propriedade - US$ 27 milhões nos dias de hoje - detalhado em um relatório de uma comissão estadual de 2001. Mais de mil prédios foram destruídos. 

Assim como as perdas econômicas, o número de mortos é difícil de estimar, mas os historiadores acreditam que até 300 afro-americanos perderam a vida e quase 10 mil ficaram desabrigados, sem que nenhum branco tenha sido condenado. A polícia, que não tentou impedir o massacre, até armou alguns dos manifestantes, segundo o relatório.

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Por duas décadas, o relatório foi um dos relatos mais abrangentes a revelar os detalhes horríveis do massacre - entre os piores ataques terroristas raciais da história do país - bem como a culpabilidade do governo.

Viola Fletcher, de 106 anos, é uma dos últimos três sobreviventes do massacre Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

A destruição de propriedade é apenas uma parte da devastação financeira que o massacre causou. Muito maior é um tipo de herança trágica: a perda incalculável e duradoura do que poderia ter sido, e a riqueza geracional que poderia ter moldado e garantido a fortuna de filhos e netos negros.

“E se tivéssemos sido autorizados a manter o nosso negócio familiar?” perguntou Brenda Nails-Alford, de 60 anos. A sapataria Greenwood Avenue de seu avô e seu irmão foi destruída. “Se eles tivessem permissão para continuar com esse legado não há como dizer onde poderíamos estar agora.”

Na segunda-feira, o prefeito de Tulsa se desculpou formalmente pelo "fracasso da cidade em proteger" a comunidade em 1921. "As vítimas - homens, mulheres, crianças - mereciam coisa melhor de sua cidade", disse G.T. Bynum em um comunicado.

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Os efeitos da destruição continuam a ser sentidos hoje nesta cidade de Oklahoma, um Estado escravagista do sul e reduto da Ku Klux Klan.

Por muito tempo, o que aconteceu em Greenwood foi deliberadamente enterrado na história. Durante décadas, os jornais raramente mencionaram os eventos de 31 de maio e 1º de junho de 1921. Os historiadores do Estado ignoraram em grande parte o massacre e as crianças não aprenderam sobre ele na escola, de acordo com o relatório de 2001. Os moradores atribuem o silêncio a uma série de fatores.

Os negros ficaram traumatizados, temiam que isso pudesse acontecer novamente e não queriam passar a informação aos filhos, enquanto os brancos não gostariam de acreditar que membros respeitados de sua comunidade participaram, de acordo com Phil Armstrong, diretor da comissão do centenário, e Michelle Place, diretora executiva do Museu e Sociedade Histórica de Tulsa. 

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Place disse que o relatório de 2001 foi escrito antes que fosse tarde demais. “Muitos dos sobreviventes do massacre racial estavam morrendo ou haviam morrido, então foi um esforço para contar suas histórias e lembrar aquela parte de nossa história e não deixá-la ir para o túmulo”, disse. 

A história também é registrada nos autos do tribunal, com a descrição de corpos e casas incendiadas, em uma ação movida em fevereiro por sobreviventes e descendentes que buscavam justiça para as vítimas. Pedidos de indenização há muito tempo estão sem resposta.

Manifestação em frente à igreja Vernon, em Tulsa; EUA lembram 100 anos de seu pior massacre racista Foto: Andrew Caballeros-Reynolds/AFP
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Este ano, o massacre de Tulsa passou de praticamente desconhecido a emblemático com uma velocidade impressionante, impulsionado pelo reconhecimento nacional com o racismo e, especificamente, com a violência contra os negros americanos. 

A visita de Joe Biden hoje à cidade foi a primeira de um presidente em exercício nesta data especial. Ela é feita após a onda de protestos por justiça racial que os Estados Unidos vivenciaram no ano passado, desencadeada pela morte do afro-americano George Floyd após ser sufocado por um policial branco em Minneapolis (Minnesota)./NYT, AFP, W.POST, EFE e Reuters 

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