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O que pensam os republicanos

Para conservadores, sistema de bem-estar social ameaça futuro das finanças e capitalismo

Por David Brooks
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WASHINGTON - Os democratas perguntam-me frequentemente por que razão os republicanos passaram a adotar uma posição tão extremista. E recorrem em geral a uma metáfora que alude a uma doença. Por exemplo, os republicanos têm uma mania. Segundo o presidente Barack Obama, os republicanos têm uma "febre" que ele espera domar se for reeleito. Veja também:

linkRomney faz campanha no interior atrás do voto rurallinkAprovação a Obama cai 3 pontos e fica em 47%, diz pesquisa tabela ESPECIAL: Eleições americanasDiria que os republicanos não têm uma doença, mas um ponto de vista. Eu vejo a coisa da seguinte maneira: nos anos 50, Dwight Eisenhower fez com que os republicanos aceitassem o Estado do bem-estar social do século 20. Entre ele e George W. Bush, os líderes republicanos concordaram basicamente com esse modelo. Certamente, eles queriam cortes de impostos e a descentralização do poder, mas, na prática, apoiaram o sistema, muitas vezes financiando-o mais profusamente do que os democratas. Agora, muitos republicanos chegaram à conclusão de que o modelo de Estado do bem-estar social se encontra à beira da morte. Yuval Levin expressou perfeitamente esta convicção em um ensaio definitivo para The Weekly Standard, intitulado Our Age of Anxiety: "Temos a percepção de que a ordem econômica que conhecemos na segunda metade do século 20 provavelmente nunca mais voltará - que ingressamos numa nova era para a qual não estamos preparados (...). Ao contrário, estamos à beira do colapso fiscal e institucional do nosso Estado do bem-estar social, que ameaça não apenas o futuro das finanças públicas, mas também o futuro do capitalismo americano". Na visão dos republicanos, a primeira fase desse colapso ocorre neste preciso momento na Grécia, Espanha e Itália - com economias mimadas, endividamento impossível de administrar, desemprego crescente e queda do padrão de vida. A estagnação econômica dos EUA é somente mais gradativa. Nas décadas que se seguiram à Segunda Guerra, a economia americana cresceu em média bem acima de 3% ao ano. Mas, desde então, não conseguiu acompanhar o ritmo das mudanças. Entre 2000 e 2009, o crescimento médio foi de mísero 1,7% ao ano. E entre 2009 e 2011, foi em média 0,6%. Os salários não se coadunam com a produtividade. A renda líquida familiar voltou ao patamar de 20 anos atrás. Nos EUA, assim como na Europa, afirmam os republicanos, o Estado do bem-estar social não oferece segurança nem dinamismo. A rede de segurança é tão dispendiosa que deixará de existir para as próximas gerações. Ao mesmo tempo, o atual modelo transfere recursos dos setores inovadores da economia para setores estatais já inchados, como a saúde e a educação. Sucessivos presidentes foram acumulando regulamentações e brechas na lei, criando uma forma de capitalismo de Estado no qual as grandes empresas prosperam porque dispõem de conexões políticas, enquanto as pequenas lutam para sobreviver. O modelo de bem-estar social privilegia a segurança em lugar da inovação. O dinheiro que poderia ser canalizado para a escola e a inovação agora se destina às aposentadorias e à saúde. Esse modelo, que outrora oferecia uma proteção contra os desastres inerentes ao capitalismo, agora se tornou uma máquina gigantesca que redistribui o dinheiro do futuro para a população mais velha. Esta é a causa do extremismo republicano: a convicção de que o modelo de governo é obsoleto e precisa ser substituído. Mitt Romney não vê o problema desta maneira. Ele concentra sua atenção no presidente Obama. Mas esta visão de mundo está implícita em suas propostas (extremamente vagas, aliás). Ele reformaria a estrutura do sistema de saúde, buscando um sistema com mais base no mercado. Simplificaria o código fiscal; abandonaria a política da educação adotada há 30 anos, descentralizaria o poder e aumentaria as possibilidades de escolha dos pais. A intenção é a mesma, criar um modelo que produza uma explosão de eficiência, preparando o terreno para o renascimento econômico. Os democratas tiveram dificuldade em compreender o diagnóstico republicano porque não têm a mesma convicção de que o atual modelo esteja desmoronando ao seu redor. Em seu discurso em Cleveland, na quinta-feira, Obama apresentou um relato completamente diferente da nossa situação atual. Na versão dele, o modelo de Estado do bem-estar social foi muito útil para os EUA até ser desvirtuado, há dez anos, pelo Partido Republicano, preocupado em servir aos ricos e enganar a classe trabalhadora. Em seu discurso, Obama não prometeu reformar o atual modelo de governo, e sim em fazer um reajuste geral. Os ricos pagariam um pouco mais e todos os outros teriam um pouco mais. Ele duplicaria os investimentos em energia limpa, retomaria as conversações sobre orçamento, realizadas do ano passado, e investiria em infraestrutura, em capacitação para o emprego e em pesquisa básica. Obama defende os subsídios e os incentivos fiscais em áreas específicas. De sua parte, os republicanos imaginam uma mudança sistêmica abrangente. Sua visão é de uma magnitude totalmente diferente: substituição do código fiscal e do sistema de saúde, e transformação do sistema de dotações orçamentárias. Na realidade, estas eleições dizem respeito exatamente a uma questão: o modelo do século 20 se tornou obsoleto, ou precisará apenas de um ajuste? Será que Obama não está atento a esse momento histórico ou os republicanos estão sendo excessivamente radicais, temerários e nada práticos? Republicanos e democratas têm estratégias diferentes em relação às mudanças necessárias. Na minha opinião, o provável colapso do projeto europeu influirá profundamente na estratégia que o país adotará em novembro. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA DAVID BROOKS, THE NEW YORK TIMES, É JORNALISTA

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