O que se sabe sobre o 'caso Hunter Biden', novo grito de guerra de Trump

Segundo republicano, filho de Joe Biden deixou computador em loja de reparos e conteúdo entregue ao FBI incluía email de membro do grupo ucraniano Burisma agradecendo encontro com ex-vice-presidente; candidato democrata nega reunião

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Por Redação
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não costuma medir as palavras: para o mandatário republicano, que aparece em segundo lugar nas pesquisas a duas semanas das eleições presidenciais, a família de seu rival democrata, Joe Biden, "é uma empresa criminosa".

Estas acusações, que Biden prefere ignorar para não fortalecê-las, se tornaram o novo grito de guerra dos partidários de Trump.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o candidato democrata à presidência do país, Joe Biden, durante primeiro debate para as eleições de 2020 Foto: Jim Watson/AFP

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"Prendam-no!", gritavam no domingo durante um comício, em referência a Hunter Biden, filho do candidato democrata. Nas eleições de 2016, os seguidores de Trump gritavam "Prendam-na!" contra a aspirante democrata à Casa Branca da época, Hillary Clinton.

O "Caso Hunter Biden" certamente será tema do debate desta quinta-feira entre os dois candidatos à presidência.

O coração da trama

O presidente republicano busca chamar a atenção para os negócios de Hunter Biden na Ucrânia e na China da época em que seu pai, Joe, era vice-presidente de Barack Obama (2009-2017).

De acordo com Trump, Joe Biden fez com que um promotor ucraniano fosse destituído do cargo para evitar que a companhia de gás ucraniana Burisma fosse processada por corrupção, porque seu filho Hunter fazia parte do conselho de diretores do grupo.

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Hunter e seu pai, Joe Biden, na cerimônia de posse de Obama, em 2009 Foto: Carlos Barria/Reuters

O candidato democrata garantiu repetidamente que não discutiu suas atividades na Ucrânia com seu filho. Quanto ao promotor demitido, Biden pediu sua saída, mas o FMI e a União Europeia também, por seus fracos resultados no combate contra a corrupção.

Episódios anteriores

Há um ano, os esforços de Trump para colocar os holofotes em Hunter Biden voltaram-se contra ele, após uma fonte divulgar um telefonema no qual o presidente americano é flagrado pedindo ao homólogo ucraniano que abrisse uma investigação sobre o filho de Joe Biden. Em troca, os Estados Unidos prometeram uma ajuda militar importante à Ucrânia.

Os democratas acusaram Trump de abuso de poder e o submeteram a um processo de impeachment em uma votação histórica no Congresso. Os senadores republicanos absolveram rapidamente o presidente, enterrando o "caso Hunter Biden" por vários meses.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski(E), e Donald Trump Foto: Saul Loeb/AFP

Em setembro, senadores republicanos atacaram novamente. Segundo um relatório, Joe Biden nada fez para impedir que seu filho se aproveitasse de seu nome, mas não há indícios de que tenha influenciado a política externa dos Estados Unidos para ajudar Hunter.

O ressurgimento

Na última quarta-feira, o tabloide New York Post publicou um artigo afirmando ter obtido uma cópia do disco rígido de um computador que Hunter Biden teria abandonado em uma loja de conserto em Delaware. O dono da loja teria entregue o computador ao FBI em dezembro de 2019, após copiar seu conteúdo.

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Rudolph Giuliani, advogado de Trump. Foto: Erin Schaff/The New York Times

As mensagens e fotos que estavam dentro do disco rígido chegaram ao jornal por meio do advogado pessoal do presidente, Rudy Giuliani. Um dos e-mails recuperados, datado de abril de 2015, é atribuído a Vadim Pojarskii, membro do conselho de administração do grupo Burisma: "Caro Hunter, obrigado por seu convite para Washington e pela oportunidade de conhecer seu pai", dizia a mensagem, segundo o New York Post.

A resposta democrata

Um porta-voz de Joe Biden afirmou imediatamente que os arquivos de agenda oficial do ex-vice-presidente não continham registro de uma reunião com Pojarskii.

Joe Biden é alvo da matéria publicada pelo New York Post, contida por Facebook e Twitter. Foto: Jim Watson/AFP

Biden não quis colocar lenha na fogueira. "É apenas mais uma campanha de difamação", disse.

A polêmica nas redes sociais

O Facebook e o Twitter bloquearam a divulgação do artigo do New York Post na quarta-feira, em parte porque seu conteúdo foi obtido através de pirataria.

Jack Dorsey, presidente executivo do Twitter Foto: Reuters/Lucas Jackson

Acusado de "censura", o CEO do Twitter, Jack Dorsey, admitiu que a comunicação da rede social em relação àquele artigo "não foi muito boa". Apesar deste mea culpa, os senadores republicanos anunciaram que convocarão Dorsey para uma audiência para explicar o caso.

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Interferência russa

A equipe de Joe Biden deu a entender que ele pode ser objeto de uma campanha de desinformação na Rússia. Na manhã desta segunda-feira, o diretor de inteligência nacional dos Estados Unidos, John Ratcliffe, próximo a Trump, rejeitou as acusações.

John Ratcliffe tem sido um firme defensor de Trump Foto: Alex Wong / AFP

"A comunidade de inteligência não acredita nisso porque não há nada que apoie qualquer interferência russa na campanha", disse à emissora Fox News.

E o FBI?

Os legisladores republicanos exigem saber se o FBI teve posse do computador mencionado no artigo do New York Post quando foi iniciado o processo de impeachment contra Trump.

Edifício J. Edgar Hoover, sede do FBI em Washington. Foto: Jim Bourg/Reuters

"Temos dois sistemas de justiça, um para os democratas e outro para os republicanos?", questionou o senador Ron Johnson, reiterando a afirmação habitual do presidente de que, desde sua eleição, ele é vítima de perseguição política.

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