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O que sobrou da Europa?

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Por Gilles Lapouge
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PARIS - Em que se transformou a bela, elegante Europa, projetada, alguns anos após os massacres de 1939 a 1945, por alemães, franceses, italianos, luxemburgueses, belgas e holandeses impacientes para poder enfim viver na paz e no amor? Parecia um milagre. A Europa era uma jovem e girava seu vestido leve e se afirmava que ela poria fim a mil anos de guerras, ódio e fronteiras. Os "velhos", aqueles que viveram a fundo a história, podiam continuar se detestando, mas os jovens estavam decididos a dançar juntos. A "nova Europa" de 1960 transformou-se numa velha Europa, resmungona, desconfiada, avara, repleta de cercas de arame farpado, regras e caminhos interditados. De quinta a domingo, os cidadãos dos 28 países da União Europeia escolherão deputados. E já podemos anunciar o perdedor. A multidão de inimigos da Europa não para de aumentar. O projeto europeu é desdenhado por mais da metade dos franceses - 63% estimam que a Europa é um "desperdício de dinheiro do contribuinte". A Grã-Bretanha é um ninho de antieuropeus. Mesmo a Alemanha, que obtém benefícios gigantescos da nova edificação europeia, começa a ficar farta. Um curioso paradoxo acompanha esse forte "desamor". Na França, sobretudo, mas praticamente em todos os lugares, os grandes partidos políticos de governo e também a grande maioria da classe política continuam ligados à Europa. Assim, os dois grandes partidos que dirigem o país desde o fim da guerra, a direita (UMP) e a esquerda (os socialistas), continuam partidários da União Europeia. É um espetáculo bizarro: os socialistas (neste momento no poder com François Hollande) e a direita se insultam o tempo. Mas concordam num ponto: a União Europeia é uma boa coisa. Onde estão esses numerosos franceses que manifestam aversão pela construção europeia? A resposta é simples: eles estão ligados a partidos até agora afastados do poder. Em particular o xenófobo e quase fascista Frente Nacional, dirigido por Marine Le Pen e que, segundo as previsões, deve chegar em primeiro lugar na votação, derrotando ao mesmo tempo a direita clássica UMP) e os socialistas. Igualmente hostis à Europa e ao euro está a extrema esquerda, que deverá obter em torno de 10% dos votos, e alguns outros pequenos partidos, comunistas ou trotskistas e alguns gaullistas (nostálgicos do general de Gaulle, que colocava a pátria e a nação acima de tudo). Assim a estrutura europeia está em vias de alterar drasticamente o equilíbrio tradicional do jogo político francês. Ela destruiu as antigas estruturas políticas (o Partido Socialista, a direita bem educada do UMP) para fazer o vento soprar na direção das formações extremistas, xenófobas e nocivas.*Gilles Lapouge é colunista em Paris.TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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