30 de dezembro de 2010 | 00h00
A situação foi desencadeada pelas eleições no país, saudadas por todo o mundo. Ocorre que no segundo turno, em 28 de novembro, percebeu-se que o vencedor, segundo o Conselho Constitucional, não foi o líder Laurent Gbagbo, mas seu desafiante, Alassane Ouattara. Gbagbo contestou prontamente os resultados e jurou que outra instância jurídica o declararia vencedor.
Depois disso, cada um dos dois "presidentes" entrincheirou-se em suas posições. A comunidade internacional dá razão a Ouattara, mas isso não impressiona Gbagbo, Ao contrário, ele apresenta seu rival, Ouattara (ex-vice-presidente do Fundo Monetário Internacional) como um homem dos EUA (país detestado), da França (igualmente odiada pelo hábito de intervir na Costa do Marfim com o apoio dos 15 mil franceses ricos e poderosos instalados no país), e da ONU.
Nesse país outrora rico, os dois líderes (mas, sobretudo, Gbagbo, deliberadamente populista) dispõem de um enorme viveiro de miseráveis, jovens violentos e prontos a se lançar em "orgias da morte". Os jovens desesperados das favelas estão prontos a lutar até a morte, dispostos à matança.
A Costa do Marfim também abriga muitos estrangeiros: 36% da população. Três comunidades estrangeiras prevalecem: 3 milhões de exilados de Burkina-Faso, milhões de Mali, milhões da Nigéria. O temor é que uma prova de força entre partidários de Gbagbo e de Ouattara (esses últimos apoiados pela ONU e pela Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental, Cedeo, que ameaça intervir com soldados contra Gbagbo) cruze as fronteiras do país e atinja uma vasta região da África Ocidental.
O mundo inteiro se lembra do desastre que teve lugar na África em 1994 e do genocídio repugnante que matou a revólver ou facão pelo menos um milhão de tutsis e de hutus moderados. São lembranças atrozes. Tudo deve ser feito para evitar que a África Ocidental se torne uma segunda Ruanda. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK
É CORRESPONDENTE EM PARIS
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