Um dia depois da invasão ao Panamá, o então comandante das Forças Armadas dos EUA Colin Powell teve de admitir que as forças americanas ainda não tinham localizado Manuel Noriega. “Estamos procurando por ele e vamos encontrá-lo”, disse Powell à imprensa.
Enquanto não encontrava o ditador, o Pentágono não perdeu a oportunidade de anunciar que em sua residência, no Fort Amador, os soldados encontraram pornografia, um pôster de Hitler, bonecos de voodoo e cocaína (que mais tarde disseram se tratar de farinha de trigo).
Tropas encontraram ainda uma mala com uma metralhadora de mão, US$ 3 milhões em espécie, discos de ópera - que o ditador era grande apreciador -, garrafas de vinho israelense e conhaque francês.
Os detalhes são contados por Russell Crandall, em seu livro Gunboat Democracy: U.S. Interventions in the Dominican Republic, Grenada, and Panama (Democracia com canhões: intervenções dos EUA na República Dominicana, Granada e Panamá, em tradução livre), que relata também que o ditador estava em um hotel com uma prostituta perto da Cidade do Panamá quando soube da invasão. Alertado por um de seus seguranças, ele conseguiu fugir. O governo Bush chegou a oferecer US$ 1 milhão por sua cabeça.
Na véspera do Natal, um carro da embaixada do Vaticano na Cidade do Panamá foi enviado para encontrar Noriega em um local secreto. Usando shorts e camiseta e levando duas AK-47, Noriega entrou na representação diplomática, relata Crandall.
Do lado de fora, o major-general Marc Cisneros negociava uma rendição pacífica. Sem sucesso, o comando americano, sabendo da paixão de Noriega por ópera, mandou que os soldados colocassem para tocar em alto volume clássicos do rock.
Na playlist da época, sucessos como I Fought the Law (The Clash), Voodoo Child (Jimi Hendrix) e, claro, Panama (Van Halen). A estratégia não deu certo, segundo conta Crandall, por que depois de alguns dias oficiais do Vaticano começaram a reclamar que aquilo também estava “enlouquecendo a eles”.
Após uma semana na embaixada, o núncio monsenhor José Sebastián Laboa convenceu Noriega que o melhor era se render. No dia 3 de janeiro, vestido em seu uniforme militar e segurando uma bíblia, o ditador se entregava e era levado como prisioneiro dos EUA, de quem um dia foi colaborador.