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O rock como arma para a rendição de Manuel Noriega

Depois que o ditador panamenho - um apreciador de ópera - se refugiou na embaixada do Vaticano na Cidade do Panamá, soldados americanos colocaram para tocar em alto volume clássicos do rock

Por Renata Tranches
Atualização:

Um dia depois da invasão ao Panamá, o então comandante das Forças Armadas dos EUA Colin Powell teve de admitir que as forças americanas ainda não tinham localizado Manuel Noriega. “Estamos procurando por ele e vamos encontrá-lo”, disse Powell à imprensa. 

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Enquanto não encontrava o ditador, o Pentágono não perdeu a oportunidade de anunciar que em sua residência, no Fort Amador, os soldados encontraram pornografia, um pôster de Hitler, bonecos de voodoo e cocaína (que mais tarde disseram se tratar de farinha de trigo). 

Tropas encontraram ainda uma mala com uma metralhadora de mão, US$ 3 milhões em espécie, discos de ópera - que o ditador era grande apreciador  -, garrafas de vinho israelense e conhaque francês. 

Noriega é levado aos EUA em um C-130 como prisioneiro americano Foto: Staff Sgt. Charles M. Reger/U.S. Air Force via NYT

Os detalhes são contados por Russell Crandall, em seu livro Gunboat Democracy: U.S. Interventions in the Dominican Republic, Grenada, and Panama (Democracia com canhões: intervenções dos EUA na República Dominicana, Granada e Panamá, em tradução livre), que relata também que o ditador estava em um hotel com uma prostituta perto da Cidade do Panamá quando soube da invasão. Alertado por um de seus seguranças, ele conseguiu fugir. O governo Bush chegou a oferecer US$ 1 milhão por sua cabeça. 

Na véspera do Natal, um carro da embaixada do Vaticano na Cidade do Panamá foi enviado para encontrar Noriega em um local secreto. Usando shorts e camiseta e levando duas AK-47, Noriega entrou na representação diplomática, relata Crandall. 

Do lado de fora, o major-general Marc Cisneros negociava uma rendição pacífica. Sem sucesso, o comando americano, sabendo da paixão de Noriega por ópera, mandou que os soldados colocassem para tocar em alto volume clássicos do rock.

Em 1968, Manuel Noriega participou do golpe de Estado quelevou ao poder o general Omar Torrijos; começou a governar de fato em 1983 depois do misterioso acidente de avião que matou Torrijos Foto: AP Photo/Jim Ellis

Na playlist da época, sucessos como I Fought the Law (The Clash), Voodoo Child (Jimi Hendrix) e, claro, Panama (Van Halen).  A estratégia não deu certo, segundo conta Crandall, por que depois de alguns dias oficiais do Vaticano começaram a reclamar que aquilo também estava “enlouquecendo a eles”. 

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Após uma semana na embaixada, o núncio monsenhor José Sebastián Laboa convenceu Noriega que o melhor era se render. No dia 3 de janeiro, vestido em seu uniforme militar e segurando uma bíblia, o ditador se entregava e era levado como prisioneiro dos EUA, de quem um dia foi colaborador.

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