O temor de uma 'nova Ruanda' em 2014

PUBLICIDADE

Atualização:

ANÁLISE:

PUBLICIDADE

Bate Felix e Paul Ngoupana

Em dois dias de violência este mês na capital da República Centro-Africana, Bangui, milicianos mataram mil pessoas e alimentaram temores de que o país estaria prestes a mergulhar numa guerra sectária comparável ao genocídio de Ruanda, em 1994. O massacre foi uma resposta às atrocidades praticadas por combatentes - em sua maioria, muçulmanos - do grupo rebelde Seleka, que tomou o poder em março. Com a carnificina, a França decidiu enviar imediatamente 1.600 soldados sob mandato da ONU para proteger civis.

Líderes religiosos fizeram soar o alarme sobre abusos do Seleka depois que militantes do grupo queimaram igrejas, saquearam e mataram durante sua marcha sobre a capital, no começo do ano. A violência deixou 700 mil pessoas desalojadas até agora.

Muitos no país insistem que as origens do conflito têm pouco a ver com religião, numa nação onde muçulmanos e cristãos vivem em paz há muito tempo. Eles culpam uma disputa política pelo controle de recursos em um dos Estados mais precariamente governados da África, dividido por conflitos étnicos e agravado pela interferência estrangeira. Rica em diamantes, madeira, ouro, urânio e até petróleo, a República Centro-Africana foi sacudida por cinco golpes e numerosas rebeliões desde sua independência da França, em 1960, porque diferentes grupos trataram de disputar o controle dos recursos do Estado.

Isso - e os respingos de conflitos nos vizinhos Sudão, República Democrática do Congo e Chade - destruiu o estado de direito, deixando um Estado fantasma com um Exército pouco disciplinado. Os líderes do Seleka lançaram sua sublevação para que os povos do norte tivessem acesso à riqueza de recursos, particularmente o petróleo que está sendo explorando pela China National Petroleum Corporation. Um deles diz que sua tribo gula - de pastores muçulmanos negligenciados tanto pelo regime colonial francês quanto pelos governos pós-independência - foi traída pelo ex-presidente François Bozize, que buscou sua ajuda para um golpe em 2003, mas se cercou da tribo gbaya tão logo chegou ao poder.

Com o apoio de combatentes chadianos e sudaneses endurecidos na luta, o Seleka marchou para o sul, sobrepujando não só as tropas de Bozize precariamente equipadas, mas também uma força de paz sul-africana, em março. Uma vez em Banqui, sem saber falar francês nem a língua local, sango, os combatentes do Seleka buscaram muçulmanos falantes de árabe e ficaram com eles, com frequência acumulando os produtos de saques em suas casas. / CELSO PACIORNIK

Publicidade

SÃO CORRESPONDENTES DA 'REUTERS' NA RCA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.