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O tempo corre a favor de Putin

As sanções que os EUA ameaçam impor à Rússia prejudicariam empresas europeias

colunista convidado
Foto do author Lourival Sant'Anna
Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

Ao final de uma semana de negociações infrutíferas, a pergunta sobre a intervenção russa na Ucrânia se deslocou da categoria do “se” para do “quando” e “como”. Pode ser um golpe de Estado, incursão militar a partir da Rússia ou da Transnistria, território ocupado pelos russos na Moldávia, ou a combinação dessas opções.

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É a consequência lógica das exigências do presidente russo, Vladimir Putin, para retirar as tropas da fronteira com a Ucrânia: elas equivalem a um retorno ao período anterior a 1997. Naquele ano, Bill Clinton e Boris Yeltsin firmaram o acordo que abriu caminho para o ingresso dos países do Leste Europeu e das ex-repúblicas soviéticas do Báltico na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Para a aliança, é um processo irreversível.

Em seu discurso anual sobre o Estado da União em abril de 2005, Putin definiu o colapso da União Soviética como “a maior catástrofe geopolítica do século 20”. Aos 69 anos, ele parece mirar na restauração da influência sobre o que os russos chamam de “exterior próximo”, como seu legado.

Soldado ucraniano perto de área controlada por rebeldes em Donetsk; crise eleva tensão com EUA Foto: Andriy Dubchak/AP

O vice-chanceler russo, Serguei Ryabkov, conversou por dois dias com a subsecretária de Estado americana, Wendy Sherman, comandou a delegação russa na primeira reunião com a Otan em dois anos e na Organização para a Cooperação e Segurança na Europa. Ao final, o vice-chanceler declarou que as negociações chegaram a um “beco sem saída”.

A Rússia concentra cerca de 60 batalhões na fronteira, ou em torno de 100 mil militares. Além disso, segundo inteligência americana e ucraniana, operativos russos se preparam para simular um ataque de bandeira falsa contra as milícias pró-Rússia no leste da Ucrânia ou contra uma guarnição russa na Transnistria, no oeste, para justificar uma invasão ou golpe contra o presidente Volodmir Zelenski.

A guerra psicológica já teve início, com um ataque cibernético a 70 sites do governo. “Ucranianos! Todos os seus dados pessoais foram carregados na rede pública”, dizia uma mensagem postada no site do Ministério das Relações Exteriores. “Todas as informações sobre você se tornaram públicas. Tema e espere o pior.”

O inverno (Hemisfério Norte) não está tão rigoroso e não se formou ainda o gelo necessário para o avanço dos tanques, que agora teriam de enfrentar um lamaçal no leste da Ucrânia. Nesse meio tempo, Putin tenta explorar as divisões entre aliados americanos e europeus. 

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As sanções que os EUA ameaçam impor à Rússia prejudicariam empresas europeias e o abastecimento de gás russo, que representa um terço do que a Europa consome. O tempo ainda corre a favor de Putin. 

*É COLUNISTA DO 'ESTADÃO' E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

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