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O último tango de Binyamin Netanyahu em Jerusalém

Primeiro-ministro de Israel é tão inteligente, tão imperioso, tão eloquente, que não se pode prever nada

Por Gilles Lapouge
Atualização:

Os israelenses voltam hoje às urnas para eleger seus representantes. Não é preciso dizer que o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, está à frente do partido de direita, o Likud, há 10 anos. Como ele é sagaz, seguro de si, eloquente e nem um pouco tímido, essas eleições são para ele uma “tarefa simples”. Mas, desta vez, elas assumem um caráter singular. 

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Pela primeira vez, Netanyahu perde sua soberba. Em geral, ele costuma fazer campanhas mínimas, um pouco desdenhoso. Este ano, abandonou seu “orgulho”, fez reuniões – com o grande talento de sempre –, usou as redes sociais e respondeu a perguntas de jornalistas na TV.

Ao mesmo tempo, ele multiplicou os anúncios para atestar que, uma vez eleito, liderará uma política firme em relação a tudo o que se refere aos palestinos.

No último conselho de ministros, ele se ocupou da Cisjordânia. Legalizou uma colônia perto de Jericó. Alguns dias antes, havia prometido que anexaria o Vale do Jordão.

As razões para esse ativismo? Netanyahu, seja pela perversa conjuntura ou por falta de tato, sabe que sua presença perpétua está em posição delicada. 

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Certamente, ele conseguiu alguns importantes feitos. Atualmente, ele deve se aliar ao rabino Meir Kahane, que é racista e xenófobo, e ao partido fundamentalista Noam, que se retirou da luta.

Mulher caminha ao lado de cartaz com foto de Binyamin Netanyahu Foto: Jack Guez / AFP

Segundo pesquisas, mesmo com essas adesões, ainda lhe faltariam de 7 a 10 assentos para alcançar uma maioria tranquila. 

Às dificuldades de Netanyahu acrescenta-se outro elemento, menos político do que psicológico. Ficamos impressionados quando analisamos a principal equipe política israelense pelo número de ex-amigos, apoiadores, colaboradores de Netanyahu que se apresentam nessas eleições, mas em campos opostos ao Likud. Parece uma bola de “fantasmas”, os antigos amigos de Bibi.

Avigdor Lieberman decidiu deixar a pasta da Defesa de Israel após governo acertar cessar-fogo com palestinos na Faixa de Gaza Foto: REUTERS/Ammar Awad

É o caso de Avigdor Lieberman, cuja carreira seguiu a de Netanyahu até a ruptura. O veredicto de Avigdor é cruel: “Binyamin pode ser mais inteligente que as pessoas de seu grupo, mas está sozinho no topo porque se importa apenas consigo mesmo.

Exceto por sua família e alguns amigos obstinados, ele não tem aliados. A culpa é dele”. Hoje, Lieberman lidera outro partido, o Yisrael Beiteinu, que está prestes a obter um recorde de deputados. 

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Um homem do seu partido, o Likud, pensa parecido: “Há um desgaste. Como ele coleciona inimigos, está obrigado a cuidar de tudo. Isso explica por que Netanyahu, perdendo seus ministros ao longo dos meses, foi forçado a ocupar seus lugares.

Hoje, além de ser premiê, ele gerencia as pastas da Defesa, Saúde e, temporariamente, Trabalho e Diáspora. Mais um pouco e o governo de Israel estará ocupado por 15 Netanyahus”.

Netanyahu explicou que a anexação não incluiria cidades ocupadas por palestinos, como Jericó, que seriam cercadas Foto: Rina Castelnuovo / The New York Times

Os únicos que ousam defender pontos de vista um pouco diferentes são os generais. Eles têm um medo: que Netanyahu não submeta suas escolhas militares e políticas ao aliado americano. Por exemplo, a decisão repentina de anexar o Vale do Jordão deu o que falar nas casernas. 

O jornal Maariv recebeu ecos do tumulto. Houve raiva e abuso verbal: como é que uma decisão tão séria pode ser tomada sem consultas prévias?

Então, essas eleições seriam o “último tango” de Netanyahu? O homem é tão inteligente, tão imperioso, tão eloquente, que não se pode prever nada. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO 

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*É CORRESPONDENTE EM PARIS

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