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Obama abre mão de fundo público

Pela primeira vez um candidato de um grande partido à Casa Branca rejeita o financiamento de campanha estatal

Por Washington
Atualização:

O senador Barack Obama, candidato democrata à Casa Branca, anunciou ontem que decidiu não usar o financiamento público para a campanha presidencial. A decisão permite que ele arrecade fundos por conta própria, o que lhe daria uma vantagem estratégica contra seu adversário, o republicano John McCain. Com isso, ele abre mão de US$ 84 milhões do fundo público, mas abre a possibilidade de arrecadar aproximadamente US$ 300 milhões de doadores privados. Com essa decisão, Obama torna-se o primeiro candidato de um grande partido a recusar o financiamento público desde que o sistema foi criado, em 1976, após o escândalo de Watergate. Apesar de não ser surpreendente, a notícia é uma reviravolta em relação à sugestão feita por ele mesmo, no início da campanha, de aderir ao sistema público. "O sistema público de financiamento de campanha, como existe hoje, está completamente quebrado. Nós enfrentamos adversários que se especializaram em aproveitar-se desse sistema", disse Obama. "A campanha (do senador e candidato republicano John) McCain e o Comitê Nacional Republicano recebem contribuições de lobistas e de comitês de ação política, que agem em nome de interesses especiais." Inicialmente, os dois candidatos haviam se comprometido a discutir o tema, mas a idéia foi abandonada por Obama depois que ele conseguiu arrecada centenas de milhões de dólares. Ao saber da decisão de Obama, Charlie Black, um os principais conselheiros de McCain, acusou o democrata de ter "quebrado uma promessa". McCain defendeu o financiamento público das campanhas políticas durante toda a sua carreira. Jill Hazelbaker, diretora de comunicação de McCain, também acusou o democrata de "ter traído seus princípios". "O verdadeiro teste para um candidato à presidência é a sua capacidade de manter a palavra", disse. SUPERIORIDADE Pelo sistema de financiamento público, um candidato presidencial recebe do Estado cerca de US$ 85 milhões para financiar sua campanha. Em troca, o candidato é proibido de aceitar doações particulares e de gastar mais do que o montante oferecido a ele. Nas eleições deste ano, tudo indica que Obama supere com facilidade essa quantia. Apenas em fevereiro e março, o senador democrata obteve US$ 95 milhões, a maior parte desse dinheiro, conforme seus assessores destacaram ontem, proveniente de milhares de pequenas contribuições feitas pela internet. "Mais de 90% das contribuições para a campanha democrata foram de US$ 100 ou menos", disse Robert Gibbs, diretor de comunicações de Obama. De acordo com dados computados até abril, o candidato democrata arrecadou US$ 270 milhões e teria cerca de US$ 46 milhões em caixa. McCain obteve US$ 100 milhões e tem US$ 21 milhões para gastar. A campanha republicana, no entanto, afirma que a arrecadação de McCain está melhorando e seus esforços para obter dinheiro em conjunto com o Comitê Nacional Republicano estão dando resultado. "Acredito que Obama vá gastar bem mais do que nós", disse Black. O assessor do candidato republicano, porém, acrescentou que a vantagem financeira será menos importante do que se imagina. "Não precisamos gastar tanto quanto ele para vencer a eleição", disse ele. DOADORES De maneira inteligente, a campanha de Obama retratou a recusa do financiamento público como uma decisão tomada para limitar a influência de interesses escusos na campanha. "Se não fizéssemos assim, estaríamos dependentes dos milhões de dólares provenientes dos lobistas de Washington e dos comitês de ação política, que representam interesses específicos", declarou Obama em uma mensagem de vídeo divulgada ontem para explicar a sua decisão. "Foram vocês que abasteceram esta campanha com doações de US$ 5, US$ 10, US$ 20. E foi por causa disso que nós construímos um movimento enraizado no povo e composto por mais de 1,5 milhão de americanos", afirmou o democrata, em referência ao número recorde de doadores de sua campanha. CONTABILIDADE ELEITORAL R$ 104,3 milhões foi o custo da campanha para a reeleição do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006 US$ 367 milhões foi o que gastou o presidente dos EUA, George W. Bush, para se eleger em 2004 US$ 29,4 milhões foi o financiamento público recebido pelos candidatos Ronald Reagan e Jimmy Carter nas eleições de 1980

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