WASHINGTON - Na véspera do aniversário de dez anos do início da guerra ao Taleban, o presidente dos EUA, Barack Obama, acusou na quinta-feira, 6, o ISI, o serviço secreto paquistanês, de ter ligações com "indivíduos problemáticos" no Afeganistão, em mais um capítulo da deterioração da relação bilateral entre Washington e Islamabad.
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"Não há dúvida de que há algumas conexões entre o Exército e a inteligência paquistanesa e indivíduos que consideramos problemáticos", disse o presidente, em referência à rede Haqqani, acusada de organizar um atentado contra a Embaixada dos EUA em Cabul em setembro. "Não ficaremos confortáveis com uma relação estratégica de longo prazo com o Paquistão se eles não levarem em conta nossos interesses."
Obama ainda criticou o Paquistão por não demonstrar apoio efetivo ao processo de estabilização no Afeganistão e ressaltou o fato de a cooperação entre os dois países estar em "constante avaliação".
"Temos tentado convencer o Paquistão a não se sentir ameaçado por um Afeganistão estável e independente", afirmou. "Temos tentando tornar a conversa entre afegãos e paquistaneses mais efetiva do que no passado. Mas ainda temos muito trabalho a fazer."
A posição do presidente respalda a defendida pelo ex-chefe do Estado-Maior, almirante Mike Mullen, que em sessão no Congresso em setembro, acusou a rede Haqqani, um dos maiores grupos insurgentes em combate no Afeganistão, de ser um "verdadeiro braço" do ISI. Dias depois, o almirante foi além e culpou a inteligência paquistanesa pelo atentado contra a Embaixada dos EUA no Afeganistão.
Segundo Obama, a comunidade de inteligência paquistanesa tem tentado se proteger de eventuais perdas no Afeganistão pós-guerra. "Parte disso diz respeito à preservação das suas conexões com alguns setores indesejáveis, que eles (do ISI) acham que podem ganhar força no Afeganistão depois da saída das forças de coalizão", afirmou o presidente.
Dez anos depois do início do conflito, os EUA se veem em meio aos preparativos para retirar seus 100 mil soldados do Afeganistão. Conforme o calendário fixado, 10 mil militares devem sair do país no final deste ano e outros 20 mil, até setembro do ano que vem. A retirada deve ser concluída em dezembro de 2014.
Distanciamento
Nos últimos meses, o governo americano vem expressando sua falta de confiança no governo paquistanês. O pico da insatisfação deu-se em maio passado, quando Islamabad não foi informada sobre a operação de caça e de execução do líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, em território paquistanês.
O líder americano deu como exemplo da insatisfação com Islamabad a hesitação americana em enviar ajuda às vítimas da maior inundação da história do Paquistão, neste ano. Os EUA liberaram cerca de US$ 150 milhões, além de equipamentos e recursos humanos.
"Temos uma grande vontade de ajudar o povo do Paquistão a fortalecer sua sociedade e seu governo", lembrou o presidente. "Mas vocês sabem que eu evitei punir as vítimas das inundações no Paquistão por causa das decisões ruins de sua agência de inteligência."
Apesar das críticas, no entanto, o presidente afirmou que os dois aliados ainda cooperam em uma extensa lista de questões. "Não teríamos sido tão bem-sucedidos contra a Al-Qaeda sem a cooperação do governo paquistanês", garantiu. O Paquistão recebe por ano uma ajuda militar dos EUA de US$ 1,6 bilhão.