CORRESPONDENTE/ WASHINGTONDois dias depois do vazamento de 92 mil documentos militares secretos sobre a guerra no Afeganistão, o presidente dos EUA, Barack Obama, declarou ontem que o material "não revelou nada que não tenha sido antes informado ou publicamente debatido".Numa tentativa de mudar o eixo das discussões, Obama insistiu que a estratégia americana não vai mudar e pressionou os líderes do Congresso a aprovarem a suplementação de verba de US$ 37 bilhões para as tropas americanas no Afeganistão e no Iraque (mais informações nesta página).O vazamento foi comparado ao escândalo dos Papéis do Pentágono, a divulgação de um conjunto de 14 mil páginas de documentos ultrassecretos sobre a Guerra do Vietnã, em 1971, levou o então presidente, Richard Nixon, a dar início a uma batalha judicial para impedir sua publicação pelo jornal The New York Times ? que divulgou as informações com base em liminares. O escândalo minou o já frágil apoio ao esforço de guerra.O escândalo atual envolve a apresentação de provas documentais de que o principal aliado dos EUA, o Paquistão, conduz um jogo duplo e Washington estava ciente disso.De um lado, o Paquistão cooperava com os EUA no controle de sua fronteira com o Afeganistão e recebia em troca US$ 1 bilhão por ano.Na semana passada, mais US$ 500 milhões foram desembolsados durante a visita da secretária de Estado, Hillary Clinton, à região. De outro lado, a agência paquistanesa de inteligência ajudava o Taleban a planejar ataques a tropas americanas e líderes afegãos. Os documentos cobriram o período de janeiro de 2004 a dezembro de 2009 ? portanto, o primeiro ano de mandato de Obama. Mostraram ainda que o número de vítimas civis no Afeganistão supera o dado oficial e evidencia que as forças americanas criaram um comando secreto com a missão de liquidar 70 líderes insurgentes. Conforme indicou Obama ontem, esses e outros fatos foram considerados na formulação da estratégia que está em vigor."Os documentos apontam para os mesmos desafios que nos levaram a uma extensa revisão na nossa política no outono passado", afirmou Obama, referindo-se à estratégia para o Afeganistão lançada em dezembro de 2009 e atualmente em vigor."Essa legislação (de suplementação de verba) é um importante passo na direção correta. Mas eu quero enfatizar isso: esse será apenas o primeiro passo", completou.