07 de agosto de 2013 | 19h05
A Casa Branca expressou sua contrariedade com a concessão de asilo político temporário ao americano Edward Snowden pela Rússia ao cancelar nesta quarta-feira a visita oficial do presidente Barack Obama ao seu colega russo, Vladimir Putin, prevista para setembro em Moscou. Os Estados Unidos haviam insistentemente pedido à Rússia a repatriação do Snowden, o ex-agente da CIA responsável pelo vazamento do esquema de espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA), para ser julgado por traição.
Obama diz estar decepcionado com a Rússia
A visita bilateral se daria no dia 4, véspera da reunião em São Petersburgo dos líderes do G20, grupo das maiores economias do mundo. Com o cancelamento, a ida de Obama a Moscou foi substituída pela sua visita à Suécia, país qualificado pela Casa Branca como "um amigo próximo e parceiro dos EUA". Esta foi a primeira vez que um presidente americano publicamente recusou-se a manter sua agenda de visita bilateral, acertada com antecedência, a um líder russo.
Por meio de comunicado, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, assinalou ter sido "a decepcionante decisão" da Rússia de asilar Snowden "mais um fator" do cancelamento da visita. Carney assinalara também a ausência de progresso nas discussões sobre sistema de defesa antimíssil, controle de armas nucleares, relações comerciais, segurança mundial, direitos humanos e sociedade civil como causa para a postergação do encontro entre Obama e Putin.
Guerra Fria. No Kremlin, o assessor especial de Putin, Yuri Ushakov, indicou ser hipócrita a promessa de Obama de manter com a Rússia uma relação em bases igualitárias. Mas assinalou estar o convite a Obama ainda em pé, assim como a vontade de Moscou de construir uma parceria com os EUA em questões bilaterais e multilaterais. "Está claro que essa decisão está relacionada à situação do ex-funcionário dos serviços especiais dos EUA, Snowden, que não fomos nós quem criamos", disse". "Esse problema sublinha o fato de os EUA não estarem ainda prontos para uma relação em bases iguais", completou, logo depois de ter recebido a comunicação formal sobre o cancelamento da visita das mãos do embaixador americano em Moscou, Michael McFaul.
Na noite de 6 de agosto, em entrevista à rede de televisão NBC, o próprio Obama destilara sua frustração com a recusa de Moscou em entregar Snowden, que permaneceu cinco semanas na área de trânsito do principal aeroporto de Moscou até receber a proteção do asilo temporário do governo russo no dia 1. "Foi desapontador", afirmou Obama. "Tem horas que eles escorregam de volta para a mentalidade da Guerra Fria. Eu continuamente digo para eles (os russos) e para o presidente Putin: isso é passado."
O cancelamento do encontro Obama-Putin deu-se mais por pressão interna do que por convicção diplomática da Casa Branca. As bancadas republicana e democrata no Congresso, coesas ao acusar Snowden de alta traição aos EUA, pressionavam Obama a adotar medidas ainda mais drásticas, como o cancelamento de sua presença na reunião do G20, por se dar em São Petersburgo.
A classe política ainda continua a pedir ao governo de Obama o boicote aos jogos olímpicos de inverno de 2014, na cidade russa de Sochi, a ampliação das sanções americanas à Rússia por violação aos direitos humanos e a proibição à participação de companhias dos EUA no programa russo de desenvolvimento de recursos energéticos no Ártico. Para Lawrence Korb, especialista em política internacional do Center for American Progress, o gesto de Obama foi apenas "simbólico".
Conforme explicou, o presidente americano terá chances de conversar com Putin nos bastidores do encontro do G20 sobre questões prioritárias, como a retirada do apoio russo ao regime de Bashar al-Assad, da Síria, e uma melhor cooperação bilateral em torno do tema Irã. Os EUA dependem mais da Rússia nesses campos do que Moscou de Washington. O canal de comunicação de alto nível entre os dois países, completou Korb, não foi cortado. Amanhã, os secretários americanos de Defesa, Chuck Hagel, e de Estado, John Kerry, se encontrarão com os ministros russos das mesmas áreas, Sergei Lavrov e Serguei Shoigu, para discutir a agenda de redução de arsenais nucleares, a guerra civil síria e o novo governo iraniano. "Se Obama não fosse mais ao encontro do G20 seria muito pior", afirmou Korb.
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