Obama e a 'flexibilidade' na defesa antimísseis

Republicanos aproveitam episódio de vazamento de áudio do presidente americano para recuperar vídeo de 2001 em que o então senador se dizia contra sistema de defesa

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Por É JORNALISTA , AAMER MADHANI , USA TODAY , É JORNALISTA , AAMER MADHANI e USA TODAY
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O presidente Obama tentou na terça-feira esclarecer sua sugestão, feita no dia anterior, de que haverá "mais flexibilidade" depois das eleições em novembro para abordar a controvertida proposta de construção de um sistema de defesa antimísseis na Europa. Obama foi criticado por alguns republicanos em razão do comentário feito ao presidente russo, Dmitri Medvedev, a respeito da flexibilidade, captado por um microfone ligado na segunda feira. Obama fez pouco da gafe ao cobrir o microfone com a mão ao cumprimentar o líder russo na Cúpula de Segurança Nuclear, perguntando aos repórteres se seus microfones estariam ligados. Ele então comentou a substância de sua conversa com Medvedev. "Acho que todos compreendem... Que desejo reduzir os arsenais nucleares", disse Obama. "E um dos obstáculos para tanto é o estabelecimento da confiança mútua em relação ao tema da defesa antimísseis. Portanto, não se trata de esconder o jogo." Os russos se opõem à construção do sistema na Europa. Representantes do governo destacaram que o sistema de defesa antimísseis tem como objetivo proporcionar proteção contra um possível ataque com mísseis disparados pelo Irã, mas os russos temem que o sistema seja usado contra eles. Obama reiterou seu compromisso com o sistema de defesa antimísseis. Ele disse que, no curto prazo, é impossível apressar sua implementação em razão da complexidade do tema, da resistência russa e da proximidade das eleições nos Estados Unidos. Os republicanos disseram que os comentários de Obama sugerem a possibilidade de ele estar disposto a abandonar o sistema de defesa. Num memorando aos repórteres, representantes da Comissão Nacional Republicana (CNR) destacaram que Obama pediu cortes de US$ 9,3 bilhões nos programas de defesa antimísseis no orçamento de 2010. Os republicanos distribuíram o trecho de uma entrevista em vídeo gravada em 2001 no qual Obama diz: "Eu... Não concordo com um sistema de defesa antimísseis".Então senador pelo Estado de Illinois, Obama fez tal comentário ao criticar a escolha de Donald Rumsfeld para o cargo de secretário da Defesa. Rumsfeld defendia um sistema mais amplo, com base em instalações em terra, diferente do escudo antimísseis defendido por Obama atualmente. A porta-voz da CNR, Kirsten Kukowski, disse que o vídeo é "relevante, especialmente depois do comentário feito ao presidente russo dizendo que é melhor esperar até o fim da eleição para realmente tratar do assunto". O porta-voz da campanha de Obama, Ben LaBolt, disse que a CNR distribuiu um vídeo que "não passa de uma sobra requentada da campanha de 2008, um comentário editado e tirado de contexto". A Casa Branca reagiu ao candidato republicano Mitt Romney, que chamou na véspera a Rússia de "principal adversária geopolítica" dos EUA, mostrando-se "muito preocupado" com os comentários do presidente. "A Rússia não é uma amiga no palco mundial, e o fato do presidente buscar uma maior flexibilidade num momento em que não terá de responder ao povo americano me parece extremamente alarmante", disse Romney em entrevista à CNN. O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse que o comentário de Romney ignora o fato de a Rússia ter cooperado em muitas questões difíceis, como a imposição de sanções ao Irã no Conselho de Segurança das Nações Unidas. "Me parece pouco correto dizer isso a respeito da Rússia", disse ele.Ainda na terça-feira, Obama reuniu-se com o primeiro-ministro paquistanês, Yusuf Raza Gilani. O encontro, ocorrido num momento de tensão entre Paquistão e EUA, marcou a negociação de mais alto nível entre os dois países desde que o ataque de forças de elite da Marinha americana levou à morte de Osama bin Laden. Os paquistaneses estão promovendo uma reavaliação no parlamento depois que 24 de seus soldados foram mortos por engano num ataque aéreo americano perto da fronteira. Antes da reunião, Obama reconheceu que o relacionamento passa por um período difícil. "Nos últimos meses, houve momentos em que, para não usar termos mais fortes, nosso relacionamento passou por períodos de desgaste", disse Obama. "Mas considero positivo o fato de o parlamento paquistanês estar reavaliando a natureza do relacionamento entre nossos países. Considero importante que este seja definido nos termos corretos." / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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