Barack Obama e Hillary Clinton se enfrentaram no domingo em uma espécie de duelo eleitoral na cidade de Selma, no Alabama, onde separadamente participaram de uma manifestação em prol dos direitos civis e tentaram conquistar o voto da população negra. Os dois foram a Selma comemorar o chamado "Domingo Sangrento", que se refere ao dia 7 de março de 1965, quando a Polícia do Alabama atirou contra 600 pessoas que participavam de uma manifestação a favor dos direitos civis na ponte Edmund Pettus. Obama discursou na igreja Brown Chapel, e, na mesma rua, estava Hillary, falando na First Baptist Church. Ao perguntarem sobre a manifestação de 1965 (quando o candidato tinha 4 anos de idade) ou ter sofrido racismo, Obama contou que seu pai é de origem africana e sofreu muito por isso. O senador, no entanto, não mencionou que cresceu no Havaí e na Indonésia, longe dos estados do sul onde o futuro dos negros na sociedade americana foi decidido. Já Hillary tentou fazer uma conexão semelhante com sua audiência e disse que, antes do movimento em prol dos direitos civis, as mulheres não podiam fazer parte dos júris no Alabama. A senadora disse que, graças a essa luta, ela pode agora ser candidata à Presidência, assim como Obama e o latino Bill Richardson, governador do Novo México. Nascida em 1947, Hillary conheceu Martin Luther King e se interessou pela política no auge do movimento para reivindicar os direitos dos negros. Quem obteve o apoio dos afro-americanos, no entanto, foi Bill Clinton, que também foi a Selma e cujo nome foi designado hoje para a "Sala da Fama dos Direitos Políticos". O desafio para a senadora é conseguir que o carinho que os eleitores negros têm por seu marido se transforme em votos para ela. Fora as referências pessoais, o conteúdo dos discursos dos dois candidatos foi semelhante. Ambos denunciaram as desigualdades em educação e saúde, assim como o "abandono" dos afetados pelo furacão Katrina, que são, em sua maioria, negros. Em janeiro, uma enquete do jornal "The Washington Post" indicou que 60% dos integrantes desta minoria apoiavam Hillary, frente a 20% que votariam em Obama. Porém, na última pesquisa Obama liderou, com 44%, em comparação com os 33% da senadora. Correndo por fora Em terceiro na preferência está o ex-senador John Edwards, da Carolina do Norte, outro estado abaixo da linha Mason-Dixon, que delimita o território histórico dos negros dos EUA após sua chegada da África. Em sua campanha presidencial anterior, o ex-senador denunciou a existência de duas Américas, uma para os privilegiados e outra, estagnada, para o resto, uma mensagem que conquistou muitos eleitores negros. No entanto, Edwards não aceitou o convite para discursar em Selma e deixou a cidade de cerca de 20 mil habitantes como cenário da luta entre os dois candidatos que lideram na corrida pela indicação democrata.