Nos 40 anos do golpe na Argentina, Obama homenageia vítimas e faz mea culpa

Presidente dos EUA jogou flores no Rio da Prata ao lado de Mauricio Macri e disse que seu país demorou a defender direitos humanos na Argentina

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Por Rodrigo Cavalheiro , correspondente e Buenos Aires
Atualização:

BUENOS AIRES - O presidente dos EUA, Barack Obama, homenageou as vítimas da última ditadura militar argentina (1976-1983) na manhã desta quinta-feira, 24, dia em que o golpe completou 40 anos. Num mea culpa em que mediu palavras, disse que seu país “demorou a defender os direitos humanos na Argentina”. Ele não viu as marchas antiamericanas e de tom kirchnerista organizadas na Praça de Maio à tarde, quando já estava em Bariloche.

A homenagem da qual o líder americano participou foi organizada no Parque da Memória, onde um monumento próximo ao Rio da Prata tem 10,7 mil nomes e os rostos das 30 mil vítimas da ditadura. Obama as chamou de heróis.

Presidente dos EUA Barack Obama joga flores no Rio da Prata ao lado do líder argentino Mauricio Macri para homenagear as vítimas da ditadura no país Foto: REUTERS/Carlos Barria

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O americano jogou flores no rio ao lado de Mauricio Macri, presidente argentino, e durante uma declaração conjunta disse “nunca mais”, slogan de grupos de direitos humanos repetido em manifestações. “As democracias devem ter o valor de reconhecer quando não se comportam à altura. Demoramos para defender os direitos humanos no caso da Argentina”, afirmou Obama. Ele não mencionou diretamente o treinamento e o financiamento americano a militares argentinos. “Sei que há polêmicas sobre as políticas dos EUA naqueles dias sombrios. É algo em que meu país trabalha.”

Milhares de capturados foram jogados vivos de aviões no rio ao lado do qual Obama e Macri se deixaram fotografar. O americano anunciou em sua visita a abertura de arquivos militares e de inteligência sobre o período. A decisão dá margem ao argentino para lidar com grupos de defesa dos direitos humanos, ligados ao kirchnerismo. “Enfrentar os delitos cometidos por nossos líderes pode ser fonte de divisão, mas é fundamental para construir paz e prosperidade”, concluiu Obama.

Obama não enfrentou protestos nos 6 km entre a casa do embaixador, no bairro de Palermo, onde ficou hospedado desde sua chegada na madrugada de quarta-feira a Buenos Aires. O público que aproveitou o feriado para caminhar ou pedalar acenou amistosamente.

A divisão mencionada ficou evidente no feriado de sol em Buenos Aires. Centenas de argentinos dedicaram a manhã para acenar para a comitiva de Obama até que ele deixou Buenos Aires, com destino a Bariloche, onde passeou de barco com a família. Ele deu forte apoio a Macri ao elogiar sua política externa e econômica e alçá-lo a exemplo de líder para a região e o mundo.

Argentinos que não veem tais virtudes em Macri encheram a Praça de Maio, cujos postes já não tinham as bandeiras americanas que no dia anterior receberam Obama, em sua visita à Casa Rosada.

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A líder da organização Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, que recusou o convite para acompanhar a homenagem com Obama, atacou diretamente Macri. Em um discurso diversas vezes interrompido por gritos de exaltação ao kirchnerismo, considerou demissões de servidores e repressão a manifestações “novas formas de violação dos direitos humanos”. “Obama disse que abrirá arquivos secretos. É obrigação dos governos que foram partícipes no golpe fazer isso”, afirmou, em um dos momentos de vaia mais intensa ao americano.

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