Obama nomeia ''czar da fronteira'' na véspera de visita ao México

Alan Bersin, que serviu no governo Clinton, vai coordenar combate ao narcotráfico e ao fluxo de imigrantes ilegais

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Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

Na véspera de embarcar para a Cidade do México, o presidente americano, Barack Obama, nomeou ontem um "czar da fronteira" para coordenar o combate ao tráfico de drogas entre México e Estados Unidos e tentar reduzir o fluxo de imigrantes ilegais. O encarregado da questão é Alan Bersin, ex-funcionário do Departamento de Justiça que teve cargo semelhante durante o governo de Bill Clinton (1993-2001). O anúncio do czar da fronteira é sintomático: o narcotráfico será o principal tema da visita de Obama ao México, hoje. De lá, ele segue na sexta-feira para Port of Spain, em Trinidad e Tobago, para participar da Cúpula das Américas. A guerra do narcotráfico, que causou mais de 10 mil mortes nos últimos dois anos em território mexicano, fez o México ser apontado como um "Estado falido", no último relatório do Departamento de Defesa. A secretária americana de Segurança Nacional, Janet Napolitano, anunciou poucas semanas atrás o endurecimento da polícia para coibir o tráfico de armas para o México. A secretária de Estado, Hillary Clinton, em visita recente ao México, fez um mea-culpa: "Nossa demanda insaciável por drogas alimenta o narcotráfico. Nossa incapacidade de evitar o contrabando de armas na fronteira causa mortes de policiais, soldados e civis", disse Hillary. Segundo Denis McDonough, vice-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, a visita de Obama ao México servirá para "mandar um sinal forte de que o presidente Obama admira o trabalho do presidente (Felipe) Calderón de confrontar a violência e impunidade de organizações criminosas de tráfico de drogas." Mas, apesar do destaque do México na agenda dos EUA, Obama encontrará também questões espinhosas na agenda bilateral. O embaixador do México nos EUA, Arturo Sarukhán, sugeriu na semana passada que os EUA anunciem uma proibição na venda de fuzis e metralhadoras. Cerca de 90% das armas apreendidas no México com os traficantes vêm dos EUA. Os EUA resistem a mudanças na lei de vendas de armas, por oposição da ala conservadora. "O presidente acredita que podemos fazer grandes avanços aplicando as leis que já temos para deter o fluxo de armas para o México", disse Dan Restrepo, responsável por Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional. Os mexicanos também estão frustrados com a ineficiência da Iniciativa Mérida. Dos US$ 1,4 bilhão prometidos pelo governo americano em junho do ano passado para compra de helicópteros e reequipamento da polícia só US$ 7 milhões foram liberados. Outros tópicos problemáticos da agenda serão a reforma da imigração e o comércio. Obama prometeu voltar à carga para aprovar uma reforma de imigração, que empacou no Congresso em 2007. Mas fontes da Casa Branca indicam que esse esforço será adiado, diante das batalhas que Obama vai enfrentar para aprovar a reforma no sistema de saúde e regulação de mudança climática. Uma disputa comercial entre os dois países surgiu no mês passado, quando o Congresso cancelou um programa que permitia que caminhões mexicanos operassem nos EUA. O movimento de caminhões está previsto no Nafta, e o veto violou o acordo comercial. O México retaliou com tarifas no valor de US$ 2,4 bilhões. "A visita de Obama ocorre em um momento muito difícil para o México. Além do problema das drogas, o país foi abalado pela crise financeira, já que as duas economias são muito ligadas", diz Peter de Shazo, diretor do Programa das Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. "Obama precisa reassegurar aos mexicanos que oferecerá cooperação em questões econômicas e de segurança."

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