Obama pede nova relação com Islã

Na Turquia, presidente diz que ''EUA não estão em guerra com muçulmanos'' e defende entrada de Ancara na UE

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Por REUTERS E NYT
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Em sua primeira viagem oficial a um país de maioria muçulmana, o presidente Barack Obama garantiu ontem, diante do Parlamento turco, que os EUA não pautarão sua relação com o mundo islâmico pela guerra ao terror. Segundo Obama, Washington "não está, e nunca estará, em guerra com o Islã" e a relação com o mundo muçulmano "é capital no combate a uma ideologia que povos de todas as religiões reprovam". O discurso - com 25 minutos de duração e transmitido ao vivo pelas duas principais redes de TV árabes, Al-Jazira e Al-Arabiya - visivelmente teve como principal objetivo dissipar a imagem negativa dos EUA no mundo muçulmano durante o governo de George W. Bush. A Turquia é a última escala de Obama, que passou pela cúpula do G-20, em Londres, pela reunião da Otan, na França e na Alemanha, e pelo encontro com a União Europeia (UE), em Praga. Num ato que poderá dar força a seus críticos nos EUA, o presidente apresentou-se aos parlamentares turcos com seu nome do meio, Hussein, e relembrou sua ascendência muçulmana. "Muitos americanos têm muçulmanos em suas famílias ou viveram em um país com maioria islâmica. Sei bem disso porque sou um deles." Parte da direita americana tenta associar Obama ao Islã, enfatizando seu nome do meio, seu passado na Indonésia e a fé de seu pai. Em outro sinal de distanciamento das posições do governo Bush no Oriente Médio, Obama, indiretamente, mandou um recado ao novo governo israelense. O presidente disse que os EUA continuam totalmente comprometidos com a Conferência de Annapolis - cúpula de 2007 que prevê a criação de um Estado palestino. Na semana passada, o novo chanceler de Israel, Avigdor Lieberman, declarou que o acordo não tem mais "validade". Com elogios ao caráter laico e democrático da Turquia, relembrando seu fundador, Kemal Ataturk, o presidente reafirmou o apoio de Washington à entrada da Turquia na UE. França e Alemanha são abertamente contra a inclusão. "Falamos não como membros da UE, mas como amigos tanto da Turquia, quanto do bloco", disse Obama. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, deu uma rápida resposta: "Trabalho lado a lado com Obama. Mas, quando o assunto é a UE, cabe aos membros do bloco decidir." Obama tocou ainda em outro ponto sensível: o genocídio armênio, iniciado em 1915 pela Turquia. Sem usar a palavra "genocídio", ele afirmou que "partes não resolvidas da história podem se transformar em um peso" e pediu a normalização das relações Turquia-Armênia. Ancara considera os armênios mortos em 1915 "vítimas da guerra" e nega que tenha havido uma política de extermínio. Na campanha de 2008, Obama afirmou que "o genocídio armênio não era uma alegação, mas um fato documentado e apoiado por evidências". Questionado ontem por ter omitido a palavra "genocídio", ele disse que sua visão continua a mesma de 2008. COMPLÔ O jornal saudita Al-Watan revelou ontem que a polícia turca prendeu na sexta-feira um sírio ligado a um plano para assassinar Obama durante sua visita à Turquia. O homem, que tinha credenciais da TV Al-Jazira, confessou que pretendia esfaquear Obama.

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