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Obama quer setor privado envolvido em esforço contra crimes na internet

O presidente americano anunciou ontem medidas para tentar conter ameaças cibernéticas, que classificou de "perigo urgente e crescente"

Por CLÁUDIA TREVISAN , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

O presidente americano, Barack Obama, anunciou ontem medidas para tentar conter ameaças cibernéticas, que classificou de "perigo urgente e crescente". A mais importante delas é a proposta que autoriza empresas a compartilhar entre si e com o governo dados sobre tentativas ou invasões de suas redes, sem o risco de serem acusadas de quebra de privacidade.

O presidente dos EUA, Barack Obama Foto: Larry Downing/Reuters

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O anúncio já estava programado e não foi uma reação ao ataque contra as redes sociais do Pentágono, na véspera, cuja autoria foi reivindicada pelo grupo jihadista Estado Islâmico. Mas a coincidência reforçou a posição de Obama na defesa das propostas. "Isso apenas demonstra quanto trabalho precisamos fazer, tanto o setor público quanto o privado, para fortalecer nossa segurança cibernética e garantir que as contas bancárias de nossas famílias estejam seguras, que nossa infraestrutura esteja segura", disse Obama em encontro com líderes do Congresso na Casa Branca.

Companhias e o governo americanos foram alvo nos últimos meses de uma sucessão de ataques. A maioria teve motivação econômica e causou perdas de centenas de milhões de dólares. Mas alguns tiveram caráter político. O mais espetacular atingiu a Sony Pictures, produtora do filme A Entrevista, uma sátira sobre uma trama da CIA para assassinar o ditador norte-coreano, Kim Jong-un. Os EUA trataram o caso como uma questão de segurança nacional e o FBI atribuiu a autoria do ataque ao governo de Pyongyang.

Na segunda-feira, contas do Exército em redes sociais foram invadidas por hackers. O governo afirmou que a rede principal do Pentágono não foi violada e ressaltou que não há indício de acesso a informações confidenciais, mas teve de lidar com o embaraço de ver ameaças dos extremistas a soldados americanos em uma conta do Pentágono no Twitter.

Nos últimos dias, a Casa Branca e seus aliados no exterior vêm debatem formas de reforçar a cooperação e o compartilhamento de informações de inteligência sobre terrorismo. A Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) identificou os dois irmãos que lançaram o ataque contra o jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, Chérif e Said Kouachi, como dois jihadistas que fizeram treinamento no Iêmen.

A autorização para empresas compartilharem dados depende de autorização do Congresso, que passou a ser controlado neste ano pelo Partido Republicano. Obama espera que a gravidade do ataque à Sony, os prejuízos bilionários do setor privado e a incursão nas contas do Pentágono deem um caráter de urgência à proposta e permitam a obtenção de acordo.

O tema terá destaque no discurso sobre o Estado da União que Obama fará no Congresso na terça-feira. No pronunciamento, o presidente fará um balanço do ano anterior e apresentará suas prioridades para o que se inicia. Depois de discutir a proposta com parlamentares na Casa Branca ontem, Obama as defendeu em visita ao Centro Nacional de Integração de Comunicações e Segurança Cibernética, o principal organismo do governo dedicado ao assunto. "É um dos mais sérios desafios econômicos e de segurança que enfrentamos", declarou.

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"Essa é uma questão de segurança pública e de saúde pública e a maioria da nossa infraestrutura é de propriedade e é operada pelo setor privado. Portanto, nem o governo nem o setor privado podem defender a nação sozinhos."

Além de facilitar a troca de informações, os anúncios também ampliam as possibilidades de punição dos autores desse tipo de crime. As medidas criminalizam a venda no exterior de informações sobre contas bancárias e cartões de crédito obtidas por hackers nos EUA, permitem que autoridades processem penalmente os que vendem redes de computadores (botnets) usadas em ataques cibernéticos e dão ao Judiciário o poder de fechar botnets envolvidas em atividades criminosas.

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