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Obama relança multilateralismo em primeiro giro pela Europa

Presidente americano visitará cinco países nesta semana e pedirá mais ajuda para o conflito no Afeganistão

Por Andrei Netto e PARIS
Atualização:

O presidente americano, Barack Obama, inicia na terça-feira uma turnê pela Europa determinado a provar ao mundo que o multilateralismo está de volta à Casa Branca. Obama visita cinco países com objetivos precisos: reforçar a parceria com a União Europeia (UE), distender as relações com a Rússia e encontrar uma solução para o Afeganistão, o conflito com o Irã e a crise econômica. Sua agenda tem ainda temas como as estratégias militares para o Oriente Médio e as mudanças climáticas. A missão também se estende à secretária de Estado, Hillary Clinton, que participará em Haia, na Holanda, da Conferência Internacional sobre o Afeganistão, sob a tutela da ONU. Segundo o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, general James Jones, os americanos oficializarão um pedido para que a Europa aumente sua ajuda no Afeganistão, em mais uma medida que mostra a disposição da administração Obama de quebrar o paradigma do "mundo unipolar". Depois de oito anos de governo George W. Bush sem que uma solução militar fosse encontrada para o conflito, a diplomacia americana se mostra disposta a ouvir as reivindicações europeias: mais ajuda humanitária e mais investimento em reconstrução. O anúncio de uma nova estratégia política e militar para o Afeganistão, na sexta-feira, em Washington, facilitou o diálogo entre os dois lados do Atlântico. Em lugar da força militar, a administração Obama defende o desenvolvimento social, investimentos em programas de educação e saúde, a organização do sistema judiciário e o treinamento das forças de segurança interna. Na prática, os EUA se comprometem a realizar mais ações civis, em troca do apoio - militar e financeiro - europeu. Reunidos na República Checa, os chanceleres da UE se mostraram satisfeitos com a mudança. "A estratégia americana agora está mais próxima da europeia", disse Frank-Walter Steinmeier, chefe da diplomacia da Alemanha. Segundo Benita Ferrero-Waldner, comissária de Relações Exteriores da UE, os 27 países do bloco concordarão em ampliar a ajuda financeira ao Afeganistão. "A questão clássica da ?partilha do fardo? entre os EUA e europeus na região não deve mais ser o centro dos debates", diz Dominique Moisi, do Instituto de Relações Políticas, em Paris. "Agora o importante será chegar a um acordo sobre as estratégias a serem adotadas." PASSAGEM PELA RÚSSIA Na quarta-feira, Obama se reunirá com o presidente russo, Dmitri Medvedev para tentar lançar as bases de uma nova cooperação bilateral. Serão discutidos temas como a redução do arsenal nuclear dos dois países, a instalação das bases antimísseis na República Checa e na Polônia, a desmilitarização da Geórgia e a ampliação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Em Londres, no dia 2, Obama se reunirá com líderes do G-20, o grupo de países que responde por 85% da riqueza global. Ele discutirá a crise econômica na Cúpula de Londres, da qual também participarão os países da UE, o Japão e emergentes como China, Índia, Rússia e Brasil. Achar um ponto de consenso não será fácil. Washington está mais preocupado com as políticas de estímulo da atividade econômica - a exemplo da que consumirá US$ 787 bilhões do Tesouro americano - e Berlim e Paris querem aumentar a regulação do sistema financeiro. Os eventos seguintes retomarão o caráter político-militar da visita de Obama. Na Cúpula da Otan, em Estrasburgo, na França, e em Kehl, na Alemanha, o Afeganistão e o Irã voltarão ao centro das atenções. FILOSOFIA COMUM De acordo com James Jones, o evento será norteado pela busca de uma "filosofia comum" entre os EUA e a Europa na solução dos conflitos do Oriente Médio e no Leste Europeu. "Há dúvidas sobre a orientação da nova administração americana em relação à Otan", diz Frédéric Bozo, historiador da Sorbonne e especialista em temas militares. Em Praga, no dia 5, Obama participará da Cúpula União Europeia-EUA - reunião que terá um forte caráter simbólico. "Diferente dos presidentes que o antecederam, como Bush e Bill Clinton, Obama dirigirá a palavra à UE, e não a cada um dos países-membros", explica a cientista política americana Katya Long, da Universidade Livre de Bruxelas. "Ele envia um recado: é um presidente da era da globalização, e seu grande parceiro é um bloco de 27 países, e não mais cada uma das nações europeias." A visita de Obama à Europa terminará na Turquia.

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