Obama vai à Rússia por acordo nuclear

Presidente corre contra o tempo para aprovar pacto no Senado e desarmar 1.550 ogivas

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Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

Passada sua iniciativa para conter o poder da China na Ásia, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enfrentará nesta semana o desafio de levar adiante o "reinício" das relações com a Rússia. Ele precisa garantir a aprovação do Senado americano ao tratado bilateral de redução dos arsenais nucleares, o chamado Novo Start, ainda neste ano. Se perder o prazo, Obama provocará não só o desmonte de sua aliança com Moscou, como também dificuldades para o presidente russo, Dmitri Medvedev, e a inevitável retomada das vendas de armas russas para o Irã.Nos cálculos da Casa Branca, o tema não pode ser deixado para 2011 por duas razões. Primeiro, porque os parlamentares eleitos em 2 de novembro tomarão posse em janeiro. No Senado, isso significará uma maioria mais estreita, de apenas três votos, para o Partido Democrata de Obama. Boa parte dos republicanos se opõe ao Novo Start.A segunda razão está no fim da vigência do tratado anterior em 31 de dezembro. Sem o Novo Start, o novo sistema bilateral de inspeções não entrará em vigor, o que afetará a confiança mútua em relação aos estoques de armas atômicas.O espaço de tempo para Obama trabalhar a aprovação do Novo Start é minúsculo. A discussão se dará durante o chamado lame duck (pato manco), período de negociação das pendências do Congresso em final de cada mandato. Neste ano, o pato manco se resumirá a esta semana e mais o período de 29 de novembro a 3 de dezembro. Depois, as duas Casas entram em recesso até janeiro.O debate sobre o Novo Start, entretanto, será apenas um dos temas polêmicos a serem examinados. A bancada republicana, com o apoio de parte dos democratas, sinalizou para a Casa Branca que um tratado desta magnitude requer um período mais longo de discussões.A assinatura do Novo Start, em abril deste ano, foi uma das vitórias do governo Obama no plano internacional. Foi também o principal passo para o "reinício" das relações bilaterais, consumado dois meses depois, durante visita de Medvedev a Washington. O tratado prevê a limitação do estoque de ogivas nucleares a 1.550 unidades e impõe tetos para os arsenais de lançadores de mísseis balísticos e de bombas equipadas com explosivo nuclear.Além do Novo Start, o conjunto de compromissos desse "reinício" inclui o apoio dos Estados Unidos ao ingresso da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC) e investimentos americanos no setor informático russo. Do outro lado, Moscou reverteu sua posição sobre o Irã. Votou em favor da resolução que impôs novas sanções contra Teerã no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em maio, suspendeu suas operações de venda de armas ao Irã e permitiu o transporte de materiais bélicos americanos para o Afeganistão passando por território russo. Em especial, Medvedev barrou a transferência de tecnologia de fabricação do sistema antiaéreo S-300 aos iranianos.Se o Novo Start não for aprovado pelo Senado americano até o final deste ano, Medvedev se verá enfraquecido em relação ao primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, líder reticente à aproximação EUA-Rússia.Nesse novo contexto interno, seria provável a retomada dos negócios de Moscou com o Irã, segundo o The New York Times. Robert Kagan, do Brookings Institution concorda. "A Rússia se tornará menos cooperativa porque o Senado Republicano deve aprovar o Tratado Novo Start."

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