Observadores da ONU encontram indícios de massacre em vilarejo sírio

Banho de sangue. Um dia depois de ter sido impedida de ir ao local onde pelo menos 78 pessoas foram mortas, missão encontra casas destruídas por disparos de tanques, relatos de execuções e sinais de sepultamentos apressados em cidades próximas

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Por GUSTAVO CHACRA , CORRESPONDENTE e NOVA YORK
Atualização:

Um dia depois de serem impedidos supostamente pelas forças de segurança do ditador Bashar Assad e milícias aliadas ao regime de investigar a veracidade de um massacre de 78 pessoas na quarta-feira nas proximidades de Hama, os observadores da ONU conseguiram ontem finalmente chegar à vila de Mazraat al-Qubeir, onde encontraram um cenário de destruição. Em Nova York, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, confirmou o massacre no vilarejo sírio depois de receber os relatos dos monitores. O diplomata não acusou formalmente as forças de Assad, mas disse "haver pouca evidência de que o regime esteja cumprindo o plano de Kofi Annan", em alusão à iniciativa do mediador da crise síria, que ontem se reuniu em Washington com a secretária de Estado, Hillary Clinton. O cessar-fogo - tanto da parte do governo quanto da oposição - é um dos principais pontos do plano.Pessoas que vivem nos vilarejos ao redor de Mazraat al-Qubeir disseram que praticamente "todos os habitantes, com exceção de alguns poucos, morreram", de acordo com relato feito por Sausan Ghosheh, porta-voz da missão de observação da ONU na Síria. A vila tinha apenas 150 moradores e não havia ninguém quando os monitores chegaram.Algumas casas, de acordo com os monitores, haviam sido destruídas por disparos de tanques, num sinal de envolvimento do governo, uma vez que os grupos armados da oposição não têm esse tipo de armamento. Observadores disseram ter sentido cheiro de sangue em uma das casas. Um correspondente da BBC, que acompanha a missão, relatou ter visto partes de corpos espalhadas pela cidade.Moradores acrescentaram que as forças do regime teriam retirado os corpos das vítimas e outros teriam sido enterrados em vilas próximas. A missão da ONU disse não ter uma estimativa de quantos morreram e tampouco confirma o número de 78 mortos divulgado pela oposição.O site da agência de notícias estatal Sana, nas suas versões em árabe e em inglês, usa a palavra "massacre" para descrever os acontecimentos em Mazraat al-Qubeir. Mas, por meio de uma entrevista do vice-chanceler iraniano, Hussein Amir Abdullahian, culpa "terroristas" pelas mortes. Em outros veículos da imprensa oficial de Damasco, onde não existe liberdade de imprensa, o total de mortos na vila próxima a Hama foi estabelecido pelo regime em apenas nove.No fim de maio, outro massacre ocorreu em Hula, no qual 108 pessoas foram mortas, incluindo mulheres e crianças.A ação desta semana foi atribuída às shabiha (fantasmas, em árabe), como são denominadas as milícias pró-Assad normalmente compostas por alauitas e cristãos, com ajuda do Exército. O regime nega e afirma que terroristas estiveram por trás da operação que chocou a comunidade internacional. Nos 15 meses de levantes na Síria, mais de 10 mil pessoas foram mortas, segundo a ONU. Conforme a Cruz Vermelha, 1,5 milhão de sírios precisam de ajuda.Nos EUA, antes de se reunir com a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, Annan afirmou que "muitos dizem que seu plano está morto. Mas o problema é o plano ou a implementação? Se for a implementação, como faremos? Se for o plano, quais opções temos?"Annan defende ainda a criação de um grupo de contato com todos os países que podem exercer pressão sobre os lados envolvido no conflito na Síria, incluindo o Irã. Os EUA rejeitam esta possibilidade, afirmando que o regime de Teerã é parte do problema, não da solução.No Conselho de Segurança, os americanos, com seus aliados europeus e da Liga Árabe, propõem uma resolução impondo sanções ao regime de Assad e pedindo julgamento dele pelo Tribunal Penal Internacional. A Rússia e a China, que têm poder de veto no conselho, são contrários a mais sanções.

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