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Ocupação israelense isola as Colinas do Golan do resto da Síria

Território ocupado desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, é raramente lembrado durante as discussões de paz

Por Gustavo Chacra e DAMASCO
Atualização:

A recente propaganda do Ministério do Turismo de Israel, publicada na revista do The New York Times e em outros órgãos de imprensa dos EUA, dizia para os americanos visitarem Israel, onde era possível ser cowboy em um rancho nas Colinas do Golan. A única diferença entre o território e uma fazenda no Texas seria que o cowboy israelense diz ''''shalom'''', enquanto o americano ''''hello''''. Não houve nenhum protesto nas universidades americanas, onde há um forte sentimento anti-Israel, nem em publicações de esquerda, como a The Nation, sempre atenta às gafes do governo israelense. A oposição à ocupação do território sírio por Israel não desperta a mesma paixão que a das áreas palestinas, que são tema de livros até mesmo do ex-presidente dos EUA Jimmy Carter (Palestine - Peace, not Apartheid) e de criticas a israelenses ao redor do mundo. Nem a Al-Qaeda condena em seus comunicados a ocupação do Golan. Em sua recente passagem por Nova York, o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, levantou a questão palestina. Já a ocupação de um território da Síria, seu principal aliado no Oriente Médio depois do Hezbollah, foi esquecida. Ocupadas por Israel em 1967, na Guerra dos Seis Dias, e anexadas em 1981 em ato não reconhecido pela ONU, as Colinas do Golan se localizam na fronteira entre Israel e a Síria. Desde 1974, quando foi assinado um armistício mediado pelos EUA, a área é, ironicamente, uma das mais calmas ao redor de Israel. Atualmente, mais de 30 mil pessoas vivem nas colinas ocupadas. Cerca de dois terços, segundo a ONU, é composta de colonos israelenses. O restante é sírio. Eles não podem cruzar livremente da área anexada por Israel para o lado sírio. Os israelenses permitem a travessia dos habitantes apenas em alguns casos. O mais comum é dos estudantes, que têm o direito de atravessar para o lado sírio uma vez por ano, quando começa o ano letivo. A passagem se dá em uma pequena estrada do Golan onde, primeiro, eles são liberados pelos militares israelenses e entregues à Cruz Vermelha Internacional. Em seguida, são colocados em vans e levados até o lado sírio, onde passam por novos trâmites burocráticos. A outra possibilidade de travessia é a de um casamento. A noiva - ou o noivo - pode deixar o Golan e ir para a Síria caso decida se casar. Porém é uma viagem sem retorno. Separados da família, no passado, os moradores do Golan iam para uma grade onde, por meio de alto-falantes, conversavam com os parentes do outro lado. Hoje, porém, o hábito é raro por causa da internet. Essa calma nas colinas do Golan, no entanto, pode terminar a qualquer momento, de acordo com o general austríaco Wolfgang Jilke, comandante das Forças de Paz da ONU para as Colinas do Golan. ''''Temos uma situação estável, mas extremamente volátil. Qualquer evento pode ter a capacidade de alterar a situação rapidamente'''', afirmou Jilke ao Estado. Segundo ele, um dos motivos da área ser mais calma do que a fronteira com o Líbano é a presença de Estados nos dois lados. Os sírios não permitem que grupos ataquem Israel para combater a ocupação. Apenas as Forcas Armadas podem existir militarmente na Síria. A situação é completamente diferente do Líbano, onde o Hezbollah carrega armas. Esse cenário é inaceitável pelo regime de Bashar al-Assad na Síria, que reprime duramente grupos extremistas islâmicos que atuem internamente. Ao mesmo tempo, qualquer passo errado pode levar a uma guerra. Em setembro, uma reação síria a um ataque israelense contra uma instalação no norte do país poderia ter desencadeado um conflito bem mais amplo. Para Jilke, a chance de a guerra se iniciar a partir de Israel é maior. Os sírios, segundo ele, apesar de terem alguns sistemas antimísseis perto das colinas não tem condições de atacar Israel. O governo israelense afirma que ocupa a área por questões de segurança. Observando a geografia da região, é fácil observar isso. Caso Israel não ocupasse as colinas, os sírios poderiam colocar armamentos com capacidade de atingir grande parte do território israelense, especialmente a região da Galiléia. As colinas, em alguns pontos, chegam a atingir 2 mil metros de altura, enquanto o mar da Galiléia - na verdade um lago - está no nível do mar. Jilke afirma, porém, que ao contrário do que se imagina em muitos países, Israel não tem necessidade de ocupar mais as colinas por questões estratégicas, como era o caso em décadas anteriores. Os israelenses têm como se defender de um ataque sírio e de monitorar o país vizinho sem a necessidade de ocupar o Golan. O mais importante, afirma Jilke, é o controle da água nas colinas e o acesso ao mar da Galiléia. Hoje, as áreas das colinas sob controle da Síria se tornaram um destino comum para sírios fazerem piquenique nos fins de semanas. Além disso, escolas e grupos de todo o país vão visitar Quneitra, a única cidade desocupada por Israel. Na verdade, Quneitra é hoje uma área fantasma. Ao se retirarem, os israelenses destruíram tudo o que existia na cidade, inclusive o hospital. O governo sírio decidiu manter as ruínas da cidade intactas para mostrar o que os israelenses fizeram. No lado ocupado por Israel, há pistas de esqui e trilhas de trekking.

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