Ódio palestino/israelense atinge em cheio a França

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Por Agencia Estado
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O papa disse em 62 línguas que não se deve lutar entre si nem matar-se uns aos outros. E o disse muito bem. Para romper o ciclo do sangue e porque os príncipes e presidentes do mundo são perfeitamente nulos (quando não covardes, ou até mesmo abomináveis), é sensato fazer apelo a Deus. Esperando que Deus ouça o apelo, o delírio se exacerba. Sai de suas cavernas habituais, entre Jerusalém e Ramallah, entre Hebron e Haifa, e vem depositar seus excrementos, sua fétida sânie, em outras plagas. Por exemplo, na França. Em 48 horas, quatro grandes cidades foram atingidas por labaredas de anti-semitismo: em Marselha e em Lyon, sinagogas foram arrasadas - uma por incêndio, outra por dois carros-bombas. Em Toulouse, um açougue "kosher" foi atacado. Em Estrasburgo (bem perto da Alemanha), onde se encontra uma grande comunidade judaica, uma sinagoga foi profanada. Também na Bélgica, uma sinagoga foi atacada com bombas incendiárias em Bruxelas. Em toda parte, a Torá e os livros santos pisados e pichações sinistras. A polícia fica muda. Mas não há nenhuma dúvida de que estas ações constituem uma resposta (imbecil, mas real) a uma outra loucura - a de Ariel Sharon em Ramallah. Estes ataques mexem com os nervos da comunidade judaica. Os franceses, entre os quais alguns que conheceram o nazismo, ficam extremamente nervosos quando o anti-semitismo é reativado. E, em toda a parte, rabinos fazem apelo ao governo francês. Os temores parecem exagerados. Entretanto, a França abriga dois grupos étnicos - os judeus, instalados no país ha muitíssimo tempo, e os árabes, frutos de uma imigração recente do Magreb. E basta um pequeno crepitar de brasas no Oriente Médio para que haja o risco de confronto entre as duas comunidades. E, como a população francesa também nutre sentimentos anti-semitas ou anti-árabes, podemos avaliar quanto são perigosas estas labaredas que hoje crepitam sobre estas cidades. Existe aí uma dimensão que freqüentemente se oculta; as catástrofes que as barbáries no Oriente Médio podem provocar no restante do mundo. O "câncer" palestino-israelense pode, ao menor descuido, ativar metástases venenosas. Os homens parecem agora descontrolados. Certamente, há chefes tão desonrados como Sharon ou Arafat, há olhos faiscantes de ódio tanto em Gaza quanto em Belém, há crianças judias e árabes derramando as mesmas lágrimas, mas tudo acontece como se o ódio, o cretinismo tivessem definitivamente tomado o poder.

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