09 de março de 2019 | 01h43
Atualizado 09 de março de 2019 | 10h14
WASHINGTON – A Organização dos Estados Americanos (OEA) prevê um fluxo de mais de 5 milhões de imigrantes da Venezuela em 2019. De acordo com relatório divulgado nesta sexta-feira, 8, a movimentação migratória estimada pode ser equiparada com as provocadas por guerras como a da Síria e do Afeganistão.
O grupo de trabalho da OEA sobre migrantes e refugiados venezuelanos, criado em setembro por iniciativa do secretário-geral, Luis Almagro, apresentou um panorama negativo em seu relatório preliminar.
"Sem nenhuma mudança significativa que possa reverter a crise econômica, política e social na Venezuela, o número total de imigrantes e refugiados poderá ficar em entre 5,39 e 5,75 milhões até o final de 2019", diz o levantamento.
Se atual tendência permanecer, o total de imigrantes e refugiados venezuelanos ficará entre 7,5 e 8,2 milhões no final de 2020.
"Os venezuelanos são a segunda população com mais refugiados no mundo, superados apenas pelos sírios, que estão em guerra há sete anos", disse Almagro.
Vinte anos após a chegada ao poder de Hugo Chávez, falecido em 2013, a Venezuela está mergulhada em uma crise econômica sem precedentes, e a presidência de Nicolás Maduro é questionada pelo líder opositor Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino e reconhecido por mais de 50 países.
O grupo de trabalho da OEA, coordenado pelo político de oposição venezuelano David Smolansky, destacou a "magnitude e a velocidade" do fluxo migratório a partir da Venezuela têm semelhanças com outras crises de migração, provocadas por guerras.
A crise de refugiados na Síria, iniciada em 2011, gerou 6,3 milhões de deslocados em 2017. A guerra no Afeganistão, que começou em 1978, provocou em onze anos 6,3 milhões de refugiados.
"A velocidade no crescimento do número total de imigrantes e refugiados venezuelanos é tão elevada como na crise síria em seus primeiros anos", destaca o relatório.
"Estamos vivendo as consequências de uma guerra sem ter guerra", disse Carlos Vecchio, embaixador de Guaidó nos Estados Unidos, durante a apresentação do relatório.
Os imigrantes da Venezuela estão majoritariamente na Colômbia (1,2 milhão), Peru (700.000), Chile (265.800), Equador (250.000), Argentina (130.000) e Brasil (100.000).
Smolansky disse que esta situação tem "cinco determinantes": crise humanitária, violência generalizada, controle social, violação dos direitos humanos e colapso econômico.
O relatório revela que 87% dos lares venezuelanos estão abaixo da linha da pobreza, contra 50% em 1996, e informa que a pobreza extrema supera 60%.
A taxa de homicídios é de 81,4 para cada 100.000 habitantes.
"É talvez a pior crise da história moderna do hemisfério ocidental", avalia o grupo de trabalho da OEA. \ AFP
O líder opositor e autodeclarado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, pediu a seus apoiadores que vão às ruas neste sábado, 9. A falta de gasolina na Venezuela se agravou e ampliou a crise chavista. Além disso, a maior parte do país ficou no escuro desde a tarde de quinta-feira, 7, e até o serviço de telefonia deixou de funcionar. Aeroportos, hospitais e o comércio estiveram fora de operação.
O presidente da Venezuela Nicolás Maduro também convocou apoiadores e voltou a criticar o "império dos Estados Unidos" que, segundo ele, subestima a determinação do povo venezuelano.
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