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Ofensiva de Saakashvili foi erro de cálculo, diz analista

Por Marjorie Miller , Geraldine Baum e Los Angeles Times
Atualização:

O presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, formado em Direito nos EUA e considerado por Washington um defensor da democracia, construiu uma carreira política graças a sua capacidade de se equilibrar à beira do precipício com a vizinha Rússia. Mas, desta vez, pode ter exagerado. Em 2003, ajudou a depor Eduard Shevardnadze. Em janeiro de 2004, elegeu-se com 96% dos votos e tornou-se o mais jovem presidente da Europa, aos 36 anos. Desde então, vem brigando com Moscou pelo controle da Abkházia e da Ossétia do Sul, duas regiões georgianas favoráveis à Rússia. Amante do vinho georgiano e da cultura ocidental, Saakashvili é descrito como extremamente autoconfiante, e mesmo autocrático, e um personagem que gosta de extrapolar. Saakashvili diz que suas forças foram provocadas e obrigadas a agir na Ossétia do Sul, mas a Rússia o acusa de lançar uma ação ofensiva contra sua nêmesis. De qualquer modo, ele acabou criando uma situação mais precária. "Foi um jogo calculado, mas ele calculou errado", disse F. Stephen Larrabee, diretor de Segurança Européia na Rand Corp. "Foi obrigado a retirar-se. Foi um erro militar, que provocou um incidente internacional." A longo prazo, sua reação pode se inverter pelo fato de ele ter lançado uma ação militar que fracassou, talvez tornando impossível a reabsorção de uma região separatista. Por outro lado, também é possível que a iniciativa tenha comprometido o objetivo da Geórgia de ingressar na Otan, afirmam os observadores, pois é improvável que a aliança aceite um membro que gosta de riscos. Sakashvili guarda uma foto autografada em que aparece ao lado de Bush em seu escritório, e é um dos aliados mais próximos dos EUA na região. Os EUA forneceram ajuda militar para a formação do Exército da Geórgia que, em troca, enviou soldados ao Iraque. Os analistas atribuem a Saakashvili e a um pequeno grupo de jovens assessores a eliminação da corrupção na Geórgia e a revitalização da economia. Mas também afirmam que ele é intolerante, tanto com a oposição política interna quanto com os movimentos separatistas. Mandou prender adversários políticos, e muitas vezes os ignorou ou os expôs a zombarias. Em julho, Washington recomendou publicamente cautela a Saakashvili e aconselhou-o a usar a diplomacia na disputa com a Rússia na questão das províncias. Agora, Saakashvili lamenta que o Ocidente não o tenha apoiado. Além disso, está claro que os russos sentem uma enorme animosidade pessoal contra Saakashvili, que consideram um títere dos EUA. Em 2004, Saakashvili conseguiu afastar o homem forte da região de Adzhária, Aslan Abashidze. O sucesso pode ter instigado Saakashvili a querer resolver a questão da Ossétia do Sul. "Ele achou que os russos não reagiriam com a intensidade com que reagiram", disse Robert Legvold, da Universidade de Columbia. "Agora, Saakashvili se enfraqueceu consideravelmente. Será quase impossível que consiga cumprir a promessa política de devolver esses territórios à Geórgia."

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