Ofensiva reduz distúrbios em Londres

Ação da polícia e da Justiça faz com que país recupere parte de controle sobre revoltas

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Por Andrei Netto
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL / LONDRES - Em uma mobilização policial rara na história da Grã-Bretanha, a Scotland Yard mandou a campo ontem mais de 450 investigadores em uma ofensiva para identificar e prender os suspeitos de envolvimento nos distúrbios que se espalharam pelo país desde sábado. O objetivo é dissolver os focos de manifestações realizando prisões, que na noite de ontem já somavam 1,3 mil.

 

 

Focos de tumultos, porém, persistiram, concentrando-se em cidades do interior, como Manchester. Em Birmingham, três pessoas morreram atropeladas durante atos de vandalismo. As mortes ocorreram quando um homem de 32 anos acelerou seu carro na direção de um grupo de jovens que supostamente tentava proteger dos distúrbios o comércio de seu bairro.

Harron Jahan, de 21 anos, e os irmãos Shazad Ali, de 30 anos, e Abdul Mussavir, de 31 anos, eram membros da comunidade muçulmana da cidade. O crime - tratado como homicídio doloso pela polícia - criou tensões entre diferentes comunidades de Birmingham.

O triplo homicídio elevou para quatro o número de mortos desde o início dos distúrbios, no sábado, em Tottenham, periferia de Londres. Do lado da polícia, mais de cem agentes foram feridos. Ontem, os conflitos foram mais fortes em Manchester, Salford, Birmingham e Gloucester.

Em Nottingham, uma delegacia foi atacada por gangues, e houve focos de violência em Liverpool, Leicester, Bristol, Wolverhampton e West Bromwich. Já em Londres e periferias, como Tottenham e Hackney, a noite foi mais tranquila, com ruas vazias, bares, restaurantes e boates fechados e transporte coletivo apenas parcial. "Foi uma noite mais calma, mas as pessoas continuam tensas", afirmou ao Estado o brasileiro Marcelo P., de 31 anos, comerciante e morador de Tottenham há 11 anos.

A calma, entretanto, pode não ser definitiva. Em Tottenham, epicentro dos protestos, um dos manifestantes de sábado afirmou que novos distúrbios estão sendo programados. "O pessoal já está combinando por BlackBerry (um encontro) para o dia do sepultamento de Mark Duggan", disse um jovem, referindo-se ao traficante morto pela polícia no dia 4, marco da rebelião.

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Até a noite de ontem, mais de 1,3 mil pessoas haviam sido presas. O número aumentou depois da quarta madrugada de violência, quando mais de 500 manifestantes foram detidos. Realizadas com base em imagens captadas por circuitos internos de TV, as prisões fazem parte da nova estratégia da Scotland Yard para responder aos tumultos. A repressão também se estendeu à Justiça, que ontem passou a funcionar 24 horas e já condenou os primeiros jovens acusados de participação nos distúrbios.

O preço da mobilização, porém, é elevado. Ontem, o número de vagas em presídios e carceragens de Londres já era pequeno para o contingente de presos, segundo balanço realizado pelo jornal The Guardian.

Ofensiva. O "contra-ataque" policial foi ordenado pelo premiê David Cameron - cuja apatia foi criticada pela opinião pública. Além de mobilizar 16 mil agentes nas ruas da capital, o premiê autorizou o uso de canhões de água, de cassetetes, de bombas de gás e ordenou que uma unidade militar de Glasgow ficasse de sobreaviso para intervir em no máximo 12 horas caso seja acionada.

As medidas representam uma exceção nas estratégias policiais na Grã-Bretanha - onde apenas 4 mil agentes andam armados. Após se reunir com ministros e oficiais da Scotland Yard, Cameron convocou a imprensa para um pronunciamento no qual afirmou que o governo partiria para o "contra-ataque". "A população não deve ter nenhuma dúvida sobre o fato de que nós faremos tudo o que for necessário para trazer a ordem de volta às ruas e para torná-las mais seguras para aqueles que respeitam a lei."

A atitude de firmeza responde à pressão crescente do eleitorado, que se mostrou insatisfeito com as orientações dadas à Scotland Yard para que não usasse a força bruta para conter as manifestações. Segundo pesquisa do instituto YouGov, 57% dos britânicos julgam que Cameron lida mal com os distúrbios, 77% pedem a presença do Exército nas ruas e 85% acreditam que os arruaceiros ficarão impunes.

 

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Críticas tácitas ao governo também foram feitas pelo prefeito de Londres, Boris Johnson, do Partido Conservador, que ontem afirmou à BBC ser contrário aos cortes feitos pela gestão de Cameron no orçamento da polícia. "Este não é o momento de fazer cortes substanciais no efetivo da polícia", disse Johnson, revelando divergências na base do partido.

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Ontem, a Grã-Bretanha se preparava para viver uma madrugada mais segura. Até as 23 horas locais (19 horas de Brasília), nenhum incidente de grandes proporções entre manifestantes e a polícia havia sido registrado.

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