Oferta de ajuda reabre tensão com Israel

Resposta negativa da Turquia ao oferecimento israelense irrita ministro da Defesa Ehud Barak

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Por Roberto Simon , CIDADE DE GAZA e / COM REUTERS
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Horas após a imprensa israelense ter noticiado ontem a tragédia do terremoto na Turquia, o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, instruiu o chefe do escritório diplomático-militar, Amos Gilad, a contatar seu homólogo turco e oferecer "toda a ajuda que eles precisem". A resposta recebida irritou Barak. O governo turco agradeceu pela oferta, mas recusou qualquer ajuda externa até que terminasse de avaliar a extensão dos danos. Barak deu entrevista à TV israelense criticando a posição de Ancara. "Fico com a impressão de que os turcos não querem nossa ajuda", declarou. Apesar da irritação, o ministro da Defesa reafirmou que Israel está disposto a ajudar no resgate."No momento (a resposta) é negativa, mas, se eles perceberem que precisam de mais ajuda, ou repensarem a posição, fizemos uma oferta e estamos preparados para ajudar", concluiu.Relações abaladas. A prontidão israelense tem uma dimensão diplomática importante: as relações entre Tel-Aviv e Ancara se deterioraram muito nos últimos dois anos e a ajuda humanitária poderia reduzir o distanciamento entre os antigos aliados.A Chancelaria israelense também fez contato com Ancara para tentar estimar os danos causados pelo tremor e pesquisar como Israel poderia colaborar.O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, declarou que o país está pronto para enviar "qualquer coisa, desde alimentos e remédios até equipamentos para busca e resgate".Em seguida, o presidente Shimon Peres telefonou ao seu colega turco, Abdullah Gul. "Falando como ser humano, judeu e israelense, que lembra e tem consciência da profundidade dos laços históricos entre nossos países, estendo minhas condolências em nome de todo meu povo", afirmou Peres. "Nessas horas difíceis, o Estado de Israel está pronto a oferecer qualquer assistência que puder, em qualquer lugar e a qualquer momento."Além de Israel, a Turquia recebeu ofertas de ajuda vindas de Estados Unidos, China, Japão, Azerbaijão e de outros países europeus por meio da Otan. Todos receberam a mesma resposta que foi dada aos israelenses.Distanciamento. Nos anos 80 e 90, Turquia e Israel mantinham estreitos laços, sobretudo na área de defesa e segurança. Em 1999, os israelenses enviaram equipes de resgate para outro terremoto em solo turco, na região de Cirarcik, no nordeste do país. O tremor deixou mais de 20 mil mortos. Os militares de Israel protagonizaram um episódio marcante ao resgatarem uma menina de 10 anos que passou mais de 100 horas sob escombros. Mas, desde 2009, quando Israel invadiu a Faixa de Gaza para atacar o Hamas, as relações entre as duas potências regionais se deterioraram.No mesmo ano, o premiê turco, Recep Tayyep Erdogan, bateu boca com Peres durante o Fórum Econômico Mundial de Davos.O pior, porém, veio no ano passado, quando Israel matou oito turcos ao tomar um dos barcos da flotilha que tentava ir até a costa da Faixa de Gaza.Em novembro, a Turquia enviou aviões para ajudar Israel a combater um forte incêndio no norte do país. O gesto foi interpretado como um sinal de distensão de Ancara.Pouco depois, porém, um relatório das Nações Unidas sobre o incidente com a flotilha de 2010 voltou a opor os dois lados, e a Chancelaria turca retirou seu embaixador de Tel-Aviv, rebaixando as relações bilaterais ao nível de terceiro secretário.

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