Olaf Scholz: quem é o líder social-democrata e próximo chanceler da Alemanha

Vice-chanceler de Angela Merkel, Scholz era considerado o mais experiente entre os principais candidatos que disputaram as eleições de setembro; carreira política também é marcada por polêmicas

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Por Loveday Morris e William Glucroft
Atualização:

BERLIM - Após meses de negociações, o social-democrata Olaf Scholz foi definido como o encarregado de conduzir o país após a era Angela Merkel. A frente da coalizão formalizada nesta quarta-feira, 24, ao lado dos Verdes e dos liberais - partidos que obtiveram ganhos nas eleições parlamentares de setembro -, o Partido Social-Democrata encabeça o primeiro governo sem a União Democrata Cristão (CDU).

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Em setembro, Scholz conseguiu o que muitos na Alemanha consideraram impossível: trazer os social-democratas de volta à vida.

O partido político mais antigo do país, conhecido por sua sigla alemã SPD, definhou nas pesquisas por anos. Mas, nas eleições deste ano, a sigla de centro-esquerda tomou a dianteira, superando a coalizão dos democratas-cristãos, de centro-direita, que obteve a menor marca do partido desde sua fundação em 1945.

Apesar da vitória, o resultado apertado foi apenas o começo do caminho para a formação do novo governo.

Olaf Scholz, líder do Partido Social-Democrata (SPD), deve assumir a Alemanha em meio à pandemia em curso e uma crise migratória. Foto: AP Photo/Michael Sohn

O SPD foi parceiro de coalizão minoritário dos democratas-cristãos, na terceira vez que se juntou ao tradicional rival. A posição, aceita pela legenda com com relutância, permitiu a Scholz se projetar nacionalmente.

Como ministro das finanças e vice-chanceler do gabinete de Merkel durante a pandemia, Scholz, de 63 anos, construiu uma reputação de ter mãos firmes durante a crise. Ele supervisionou a distribuição de bilhões de euros em auxílio ao coronavírus e ajuda de emergência às vítimas das enchentes mortais de verão no oeste da Alemanha.

Ele foi apelidado de "Scholzomat" - algo similar a "Scholz-tapete" - por seu estilo seco, quase chato, de fazer política. Mas isso pode ter sido útil para ele com os eleitores ainda ligados a Merkel, que não era especialmente conhecida por seus discursos apaixonados. Apesar de ser de um partido diferente, ele se posicionou como o sucessor natural após os 16 anos de Merkel no poder.

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"Obviamente Merkel deixou um grande impacto na cultura política da Alemanha por meio de seu estilo de governo", disse o consultor de comunicação política Frank Stauss, que já trabalhou com o SPD no passado. Scholz não é um "clone de Merkel" - mas tem um estilo político semelhante e proximidade para atrair eleitores que podem estar procurando por mais do mesmo, acrescentou ao The Washington Post.

A chanceler Angela Merkel e o vice-chanceler Olaf Scholz, durante reunião em Berlim. Foto: Markus Schreiber/Pool via REUTERS

Um social-democrata de longa data, Scholz nasceu em Osnabrück, no Estado da Baixa Saxônia, no oeste da Alemanha, e foi criado na rica cidade-estado de Hamburgo, na costa norte da Alemanha, onde também atuou como prefeito. Alternando entre política estadual e nacional, ele serviu no parlamento, ou Bundestag, e como ministro do Trabalho e Assuntos Sociais no primeiro gabinete de Merkel.

Sua carreira política foi abalada por vários escândalos. Quando era prefeito de Hamburgo, Scholz enfrentou críticas pela repressão a protestos durante a realização da cúpula do Grupo dos 20 (G-20), em 2017, quando houve violência generalizada entre manifestantes e policiais. 

No início deste ano, uma investigação parlamentar feita por legisladores da oposição o acusou de falta de supervisão no esquema de fraude envolvendo a fintech Wirecard, considerado um dos maiores escândalos no país no pós-guerra. Ele rejeitou as acusações sobre ter qualquer responsabilidade política.

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Scholz também foi questionado em outra investigação, para saber se agiu para influenciar as autoridades fiscais em nome de um banco de Hamburgo, em um escândalo de fraude que privou o Estado alemão de bilhões de euros em receitas. Ele também negou qualquer irregularidade e, em última análise, nenhuma evidência concreta foi apresentada.

Na última reviravolta, o líder social-democrata foi forçado a retornar a Berlim depois de um compromisso de campanha na segunda-feira para responder a perguntas no comitê parlamentar de finanças. O inquérito foi iniciado depois que um promotor público ordenou buscas no Ministério da Fazenda, que investiga alegações de obstrução da justiça em sua unidade de combate à lavagem de dinheiro. 

Legisladores do SPD apontaram que, pelo momento, o movimento parecia ter motivação política, já que o partido de Scholz assumiu a liderança nas pesquisas.

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Mas ele saiu relativamente ileso. "Não teve um grande impacto", disse Peter Matuschek, analista da agência de pesquisas Forsa.

O que realmente levantou a bandeira do SPD foram os tropeços de campanha de seus rivais.

À direita de seu partido, Scholz pode ter conseguido conquistar eleitores que votaram nos democratas-cristãos - sigla mais conservadora - nos últimos pleitos por causa de Merkel. As questões de campanha do SPD incluem aumento do salário mínimo e impostos sobre os mais ricos./ W.POST

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