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Olmert apresenta modelo de comissão que analisará conflito; exército inicia investigação interna

Oficiais israelenses manifestaram ao jornal Ha´aretz seu ceticismo sobre o resultado da investigação interna, pela possibilidade de os erros serem "encobertos"

Por Agencia Estado
Atualização:

O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, apresentou nesta segunda-feira sua proposta para o modelo da comissão que investigará os possíveis erros cometidos durante a guerra contra a milícia xiita Hezbollah. Apesar da polêmica, uma investigação interna a ser realizada pelo próprio exército tem início desta segunda-feira. Em seu primeiro discurso no Parlamento após o fim do conflito no sul do Líbano, Olmert contrariou os que defendem que a investigação sobre a atuação do Governo e das Forças Armadas tenha caráter judicial, como o ministro da Defesa israelense, Amir Peretz, e vários legisladores. Olmert disse que, se for assim, "todos estarão ocupados em sua defesa legal, o que acarretará numa paralisação de todos os Sistemas". "Esta não é a hora para uma investigação desse tipo", que se prolongaria durante meses devido aos interrogatórios feitos durante uma investigação judicial, que seria conduzida por um juiz da Corte Suprema, disse Olmert na Comissão Parlamentar para Assuntos de Defesa. Além disso, o chefe do Governo israelense afirmou aos deputados que o "problema mais urgente que Israel enfrenta agora é a questão Palestina". Exército israelense inicia investigação Em meio a polêmica sobre o caráter da investigação a respeito da atuação das Forças Armadas no Líbano, cerca de 50 equipes de militares realizam, a partir desta segunda-feira, uma análise interna para determinar os erros cometidos durante o conflito com o Hezbollah. O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, ordenou uma investigação oficial, mas o titular da Defesa, Amir Peretz, líder do Partido Trabalhista, defende um exame com caráter judicial, conduzida pela Suprema Corte. Segundo a edição de hoje do jornal Ha´aretz, a investigação interna será conduzida pelo general Moshé Kaplinsky, subchefe das Forças Armadas e designado para supervisionar as operações no sul do Líbano após o início da ofensiva israelense por terra para neutralizar os ataques do Hezbollah com foguetes e mísseis. Dez dessas equipes militares estão sob responsabilidade de oficiais com categoria de general. Seu objetivo é investigar os erros logísticos cometidos por unidades de combate no sul do Líbano, assim como a convocação de milhares de reservistas na disputa após o fracasso dos ataques da aviação israelense em deter a milícia xiita libanesa Hezbollah. Apesar da sua capacidade militar e dos 30 mil soldados que enviou ao Líbano, Israel não conseguiu impedir o lançamento dos foguetes Katyusha pelo Hezbollah, além de não conseguir resgatar os dois soldados seqüestrados pela milícia desde o dia 12 de julho. O conflito causou a morte de 116 soldados israelenses e 41 civis em Israel. O país possui um dos poucos "exércitos populares", com 80% dos seus combatentes provenientes de todas as camadas sociais e profissionais do país. Vários reservistas, convocados de emergência pela tradicional "tzav shmone", ou "ordem nº 8", retornaram do Líbano alegando não terem recebido "ordens claras" dos seus superiores, pois, segundo disseram, "eles também não sabiam o que deveriam fazer". O Canal 2 da televisão israelense revelou ontem à noite que, ao contrário do que se pensava até agora, os serviços secretos das Forças Armadas conheciam as posições subterrâneas dos guerrilheiros do Hezbollah, mas a informação não chegou aos soldados israelenses. Segundo a emissora, as fotografias aéreas das aldeias libanesas do sul onde as tropas israelenses operavam eram obsoletas. Os soldados também se queixaram sobre o fato de que muitos estavam sem treinar há muito tempo e por usarem equipamentos obsoletos. Além disso, eles apontaram problemas no abastecimento de alimentos e água potável devido às dificuldades topográficas da região do Líbano meridional. Oficiais israelenses manifestaram ao jornal Ha´aretz seu ceticismo sobre o resultado da investigação interna, pela possibilidade de os erros serem "encobertos". Um dos oficiais disse que "há alguns anos, as Forças Armadas, particularmente o Exército, não se destacam pela sua autocrítica". "O encobrimento é uma doença e pode piorar, pois é muito o que está na balança, e muitos oficiais têm algo a perder se os erros vierem à tona", completou. Muitos reservistas e civis defendem uma investigação sobre o comportamento do Executivo e das autoridades militares, enquanto outros exigem a demissão do primeiro-ministro Ehud Olmert, do titular da Defesa, Amir Peretz, e do comandante das Forças Armadas, o general Dan Halutz. Halutz deve se reunir esta semana com 100 oficiais de reserva de graduações superiores para analisar a atuação durante a guerra contra o Hezbollah e suas conseqüências para um milhão e meio de civis residentes no norte de Israel, atacados pelos milicianos com quase quatro mil foguetes Katyusha e mísseis de médio alcance. Os críticos exigem uma "investigação independente e a fundo para encontrar os responsáveis" políticos e militares. Após o fim das hostilidades determinado pelo cessar-fogo promovido pela ONU no último dia 14 de agosto, Peretz designou uma comissão de revisão para detectar erros "e recomendar as medidas para saná-los". Mas o organismo, composto por generais e um civil, não durou mais de um dia.

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