Onde estão as causas da queda republicana?

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Por Jacob Weisberg e Slate
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Análise: Jacob Weisberg / SlateO que os republicanos mais devem lamentar nessa vitória do democrata Barack Obama é que a eleição de 2012 realmente poderia ter ser sido conquistada por eles. Quando europeus foram às urnas nos últimos anos, em meio à crise, o resultado foi a rejeição dos líderes estabelecidos e a mudança de comando. Os indicadores econômicos nos EUA, com atual taxa de desemprego em 7,9%, apontavam na mesma direção. O próprio Obama acabou se tornando uma decepção para muitos dos seus antigos eleitores. Transformou-se do símbolo venerado da mudança demográfica e social, em 2008, numa figura distante e indiferente, sem muita capacidade para atingir emocionalmente o eleitorado. Mas o fato de Mitt Romney ter perdido em parte tem a ver com suas próprias fraquezas como candidato. A campanha democrata o colocou na defensiva desde o início no caso do seu trabalho na empresa Bain Capital e o manteve nessa posição. O candidato republicano cometeu inúmeras de gafes horríveis. Liderou uma convenção republicana que foi um desastre. Jamais encontrou uma maneira de falar a seu respeito ou de seu programa com que os eleitores da classe média pudessem se identificar. Mas mesmo um candidato canhestro poderia ter derrotado Obama não fosse um simples fator impossível de ser superado: o extremismo crescente do Partido Republicano. Sua estratégia de transformar a eleição num referendo sobre a administração da economia pelo presidente era lógica. O problema é que o próprio partido não conseguiu passar no teste de credibilidade. E muitos eleitores desencantados com Obama também não se sentiram ser seguros para votar na oposição. O malogro começou com o espetáculo das extensas primárias republicanas, dominadas por candidatos com opiniões totalmente distantes da política tradicional. Rick Santorum, da Pensilvânia, rejeitou a separação entre religião e Estado. Newt Gingrich, da Geórgia, contestou o princípio de supremacia do Judiciário. Michele Bachman, de Minnesota, afirmou que o governo estava infiltrado por muçulmanos radicais. Donald Trump, de Nova York, recusou-se a aceitar a validade da certidão de nascimento de Obama. Rick Perry, do Texas, pretendia desmantelar mais áreas do governo federal do que conseguia nomear. Nos debates, o país viu um Partido Republicano falando para si próprio e parecendo uma agremiação política periférica, não um grupo responsável. Romney não é um político de extrema direita. Mas, para conquistar a indicação, teve de fingir ser um deles, apresentar-se como um candidato "vigorosamente conservador" e sacrificar a sensatez que fez dele um governador moderado e de sucesso do Estado mais liberal do país. Ele tinha de ser aprovado pela base de direita do partido em questões como impostos, imigração, mudança climática, aborto e direitos dos gays. Muitas das suas afirmações sobre tais assuntos eram claramente insinceras, mas dificilmente convincentes. O comportamento de Romney, cedendo às exigências da base, permitiu à equipe de Obama retratá-lo desde o início da campanha como um político da direita radical. O temor de não contar com a base impediu Romney de se aproximar um pouco mais do centro quando garantiu a indicação do partido. O que o encorajou a escolher Paul Ryan, de Wisconsin, político popular junto ao Tea Party. E quando tentou, embora muito tarde, ir mais para o centro, os candidatos republicanos ao Senado, como Todd Akin, em Missouri, e Richard Mourdock, de Indiana, passaram a soltar lembretes desagradáveis sobre as posições retrógradas do partido. No caso das mulheres, latinos e jovens tentados a abandonar Obama, o velho Romney poderia ser uma alternativa plausível. Mas o novo Romney, prisioneiro de um partido exaltado, seria uma opção arriscada. De acordo com resultados de boca de urna, Romney foi mais votado pelos homens, como era esperado, mas perdeu o voto do eleitorado feminino por 11 pontos porcentuais - uma diferença muito grande para ser superada. As mudanças demográficas e as circunstâncias econômicas melhores devem tornar o caminho republicano de volta à Casa Branca ainda mais íngreme. O partido precisa mostrar uma face mais conciliadora e moderada para conquistar os indecisos. Para isso, tem de dar voz aos moderados, ficar mais independente dos tecnocratas e se libertar dos ignorantes do Tea Party. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO   JACOB WEISBERG É COLUNISTA

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