GENEBRA - O Brasil foi de possível mediador a coadjuvante na cúpula de hoje sobre a crise síria, da qual participa com uma delegação de segundo escalão e sem nenhum papel específico. ONGs criticaram o "desinteresse" brasileiro. Nenhum encontro privado está sendo organizado e o Brasil deve discursar apenas depois dos principais atores. Segundo um diplomata brasileiro que chefia uma das divisões do Itamaraty, a conferência de hoje é "samba antes da hora".
A participação do chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo Machado, foi cancelada de última hora pelo Palácio do Planalto, que optou por enviar o secretário-geral do Itamaraty, Eduardo dos Santos. O chanceler viajará com a presidente Dilma Rousseff para o Fórum Econômico de Davos.
Inicialmente, o chanceler russo, Serguei Lavrov, insistiu que o Brasil e os demais países do Brics estivessem presentes. Ao lado de indianos e sul-africanos, o Brasil chegou a enviar uma delegação para uma conversa com o presidente Bashar Assad, no início da crise síria. Tendo uma comunidade síria de peso e canais de comunicação tanto com Damasco quanto com o Ocidente, não se excluía na ONU uma participação ativa do Brasil na mediação.
O Brasil está presente apenas para "apoiar o projeto e legitimar os esforços internacionais", segundo diplomatas do País. A posição do Itamaraty é defender a ideia de que apenas um processo político pode acabar com a guerra e uma solução precisa partir dos sírios.
A ONG Conectas criticou a "timidez" do governo brasileiro, que anunciou a doação de US$ 300 mil aos sírios numa conferência no dia 15, no Kuwait. "O valor é o menor entre todos os aportes prometidos pelos países que estiveram no Kuwait e participarão da reunião de Montreux. O México, por exemplo, doará dez vezes mais que o Brasil", disse Camila Asano, da Conectas.
A Human Rights Watch (HRW), que ontem divulgou em São Paulo seu relatório anual sobre a situação em mais de 90 países, também reclamou da "trajetória inconstante" do Brasil diante da tragédia síria.
Para a entidade, apesar de uma "emergente liderança" do País em temas de Direitos Humanos, o Brasil erra ao não apoiar um julgamento do governo sírio por crimes de guerra.
"Quando o Brasil fala, repercute. Quando ele se omite, manda sinais negativos quanto ao seu comprometimento com os direitos humanos", afirmou a diretora da ONG para o Brasil, Maria Laura Canineu.