ONGs pedem investigação autônoma sobre Gaza

Grupos querem criar comissão para apurar abusos contra civis palestinos

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Por NYT E AFP
Atualização:

Grupos israelenses de defesa dos direitos humanos exigiram ontem uma investigação independente do que chamaram de "crimes de guerra" cometidos pelo Exército israelense na Faixa de Gaza. Supostos abusos começaram a ser denunciados na quinta-feira por soldados que participaram das três semanas de operações no território palestino, entre dezembro e janeiro. Uma dezena de organizações, como a B?Tselem e a Associação pelos Direitos Civis, declararam em comunicado que a decisão do chefe da promotoria militar de investigar a morte de civis palestinos não garante a objetividade necessária. "A recusa do governo em criar uma comissão de investigação independente é uma violação das responsabilidades de Israel diante do direito internacional", afirmam as organizações em carta dirigida ao procurador-geral, Menahem Mazouz. "A decisão de abrir uma investigação dos fatos somente três semanas após terem sido divulgados (durante uma palestra a aspirantes ao serviço militar no Instituto Acadêmico de Tivon) faz duvidar da boa vontade de achar os responsáveis", disse à France Presse Sarit Michaeli, porta-voz do B?Tselem. O jornal israelense Haaretz acusou ontem o Exército israelense de "ter se manifestado muito tarde" sobre o escândalo. Segundo depoimentos de soldados que participaram da ofensiva de 27 de dezembro a 18 de janeiro em Gaza, militares israelenses foram autorizados por comandantes a matar civis palestinos indefesos. Entre os episódios publicados no Haaretz, está o de uma mãe assassinada com seus dois filhos por um soldado, porque não havia seguido as instruções de militares ao deixar sua casa. Em vez de ir para a direita, ela seguiu para a esquerda - e acabou alvejada. "Um atirador de elite viu uma mulher com duas crianças aproximar-se. Eles estavam mais perto do que permitido. E o atirador imediatamente disparou", relatou um comandante citado pelo jornal. Testemunhos ainda relatam maus-tratos, saques e destruição no interior das casas que foram transformadas em postos avançados do Exército durante a ofensiva. A ação israelense contra o grupo radical palestino Hamas na Faixa de Gaza deixou 1.330 mortos e 5 mil feridos, segundo um balanço de fontes médicas palestinas. A operação militar de Israel tinha como objetivo reduzir o lançamento de foguetes contra o território israelense por grupos palestinos, principalmente o Hamas, que controla o território desde 2006. Após três semanas de ataques, Israel anunciou um cessar-fogo unilateral. Do lado israelense, dez militares e três civis foram mortos, segundo dados oficiais. NOVAS REVELAÇÕES Ontem, o jornal The New York Times publicou novos relatos de supostos abusos cometidos por soldados israelenses em Gaza. O reservista de 33 anos Amir Marmor disse ter ficado espantado com a forma como comandantes discutiam a morte de civis palestinos. "Atire e não se preocupe com as consequências", teria dito um coronel ao reservista momentos antes de entrar em Gaza. "Venho servindo como reservista há 12 anos e sempre a questão foi como evitar morte de civis. Ele (o comandante) disse que dessa vez não poderíamos correr riscos. Deixaríamos a moral de lado para cumprir nosso trabalho. Depois poderíamos chorar as mágoas", disse Marmor.

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