Onna, o vilarejo que foi riscado do mapa

Um em cada 8 moradores locais morreu sob os escombros

PUBLICIDADE

Por Andrei Netto , ONNA e ITÁLIA
Atualização:

Áquila, a poucos quilômetros do epicentro do terremoto que abalou a Itália, é o foco da atenção internacional, mas fica a 9 quilômetros dali a "cidade mártir" da tragédia natural que se abateu sobre a região de Abruzzo. Em Onna, vilarejo de 300 habitantes, 40 pessoas morreram em decorrência dos abalos de segunda-feira. O Estado visitou ontem as ruínas da vila. Dezenas de caminhões de bombeiros e carros de apoio ainda circulam na região, prestando socorro físico e psicológico às vítimas. Em Onna, não há fuga para o olhar: tudo lembra a tragédia. As ruas desapareceram sob as pilhas de concreto e tijolos. Não há moradia que vá sobreviver ao tremor, dentre as que resistiram, mambembes e condenadas. Em contraste, chamam a atenção as tendas brancas distribuídas pelo Ministério do Interior, os novos tetos dos desabrigados pelo drama. Desolado, um senhor, ferido no rosto, gritava exasperado cada vez que se deparava com um jornalista. Do que era compreensível, suas palavras eram dirigidas contra o governo do premiê Silvio Berlusconi. "É tudo culpa dele", esbravejava, referindo-se a projetos de lei destinados a investir no reforço das estruturas das moradias da região. Segundo ele, os textos nunca foram aprovados. Quando se acalmava, era possível questioná-lo sobre o que havia enfrentado na madrugada dos tremores. "Foi terrível. Tudo balançava. Depois disso, não sobrou nada." Em Onna, como em Áquila, a contagem dos mortos também continua. Ontem, três novos corpos foram retirados das ruínas, tornando o balanço ainda mais duro. A cada oito habitantes do vilarejo, um morreu. "Eu conhecia muitas das vítimas", disse Rosalba, que se salvou da tragédia por ter passado a noite de domingo na casa dos pais, localizada no vilarejo vizinho de Picenze - onde a terra também tremeu, deixando mortos. "Éramos uma família, sabe? Todo mundo se conhecia." Embora sem a mesma proporção de mortos, situações semelhantes viveram os povoados de Castelnuovo e de Paganica, a 18 quilômetros e 8,8 quilômetros, respectivamente, do epicentro. O drama humano vivido em Áquila também não pode ser negligenciado. Graças à Cruz Vermelha e ao governo, todos têm comida, mas vários bairros continuam sem água e luz. Na cidade, fundada no século 13, hoje com 60 mil habitantes, o centro - o mais antigo aglomerado urbano da Idade Média no país - está mais arrasado do que aparenta. Vistas à distância, muitas das casas parecem ter resistido à série de abalos. Caminhar por suas vielas, entretanto, revela uma sensação oposta, um misto de desesperança e medo. Não há paredes sem rachaduras, e mesmo para leigos é difícil acreditar que suas estruturas poderão ser recuperadas. As autoridades que interditam grande parte das alamedas alegam que, no caso de novos tremores, muitas casas podem não resistir. A fragilidade das construções transforma as vias estreitas em armadilhas, das quais não parece haver saída senão a sorte. Marina Grendini, de 41 anos, desistiu desse cenário. Ainda vestindo o pijama da madrugada do tremor, ela ajudava a mãe e o marido, mesmo de muletas e com o pé engessado, a encher de objetos o Fiat Punto da família. "Não queremos mais ficar aqui", disse ao ser questionada sobre a pequena mudança. "Tudo isso é uma catástrofe. Uma catástrofe." TRISTEZA Rosalba Moradora de Onna que estava fora da vila "Eu conhecia muitas das vítimas. Éramos todos uma família" Marina Grendini Sobrevivente "Não queremos mais ficar aqui"

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.