GENEBRA - As atrocidades cometidas por forças de ordem do governo de Mianmar contra os rohingya, a minoria muçulmana do país, são denunciadas pela ONU como “limpeza étnica”. Uma investigação publicada nesta sexta-feira, 3, em Genebra pelo Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos aponta que atos de “deslocamentos forçados de um grupo religioso como consequências de atos de violência, como assassinatos, tortura, detenção arbitrária e violência sexual foram descritos como limpeza étnica”.
Para chegar a essa constatação, a ONU realizou mais de 200 entrevistas com vítimas e concluiu que se trata de uma “política designada por um grupo étnico e religioso de expulsar de uma área outros grupos com métodos inspirados no terrorismo”.
Por gerações, os rohingyas viveram na região birmana de Rakhine. Mas o governo central não os reconhece como nacionais, e espera que eles se limitem ao território de Bangladesh.
Desde meados de 2016, as autoridades em Mianmar iniciaram uma campanha contra o grupo, acusando-os de “terrorismo”. Pelo menos 80 mil pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas, lotando campos de refugiados do outro lado da fronteira, em Bangladesh.
A onda de violência começou depois de dois ataques terroristas que mataram dez agentes do governo. Para a ONU, porém, o problema é que as forças de ordem estão “fazendo a comunidade toda pagar pelos atos, e não apenas aos culpados”, que seriam de uma minoria radical.
A ONU constatou o “assassinato de bebês, crianças, mulheres, idosos, disparos contra aqueles que tentavam fugir e povoados inteiros sendo incendiados”. “Isso demonstra o menosprezo total das forças de segurança do país em relação à vida dessas pessoas”, indicou o relatório.
A organização também confirmou que os ataques são “generalizados e sistemáticos”, o que daria o caráter de uma limpeza étnica e um crime contra a humanidade.
Aos investigadores, as vítimas relataram como as agressões eram acompanhadas por uma violência contra sua religião. Enquanto pessoas eram mortas, os agentes anunciariam que queriam “erradicar o Islã” do país.
Para a ONU, existe uma “política calculada do terror”, que inclui “obrigar as pessoas a abandonarem suas cidades, a destruição completa de povoados e o confisco de bens”.