ONU admite fracasso na luta contra o ópio no Afeganistão

Relatório afirma que a corrupção atrapalha o processo, pois produtores mais poderosos podem pagar subornos para evitar que suas plantações sejam destruídas

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Mundial reconheceram num relatório publicado nesta terça-feira que os esforços da comunidade internacional para lutar contra a produção de ópio no Afeganistão têm dado poucos resultados e não são sustentáveis. "Os esforços são minguados pela corrupção e não conseguiram evitar a consolidação do comércio de drogas nas mãos de poucas pessoas com fortes relações políticas", diz o estudo sobre a indústria da droga no Afeganistão, elaborado pelo Escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) contra as Drogas e o Crime (Unodc) e pelo banco. Segundo os analistas das duas instituições, o sucesso na erradicação do cultivo numa província provoca muitas vezes uma forte alta da produção de ópio em outras regiões. O Afeganistão concentra hoje 90% da produção mundial de ópio, calcula o relatório. Os esforços para persuadir os agricultores não são eficientes em regiões isoladas, onde recursos, bens e mercados são limitados, acrescentam os analistas no estudo, que será apresentado nesta terça-feira em Washington, mas que foi adiantado à imprensa em Viena, onde fica a sede do Unodc. O documento acrescenta que a corrupção atrapalha o processo, pois produtores mais poderosos podem pagar subornos para evitar que suas plantações sejam destruídas. Isso reduz "a eficiência das medidas contra os narcóticos e acaba com a credibilidade do governo", escrevem os analistas da ONU e do Banco Mundial. O diretor-executivo do Unodc, Antonio Maria Costa, afirma num comunicado que "a história nos indica que vamos precisar de uma geração para que o Afeganistão fique livre do ópio". "Precisamos de resultados concretos agora, por exemplo dobrar até 2007 o número de províncias livres do ópio, que hoje são seis", acrescenta o italiano. Costa defende esforços concentrados para a detenção de funcionários corruptos e de agricultores nas seis províncias onde hoje o cultivo é considerado moderado. "Quem promove a indústria da droga deve ser levado à Justiça, e os funcionários que colaboram devem ser destituídos", conclui Costa. O relatório considera a erradicação da produção de drogas uma tarefa para "décadas, e não meses ou anos". A estratégia deve incluir a redução da demanda nos países consumidores. O mais recente relatório da Unodc sobre a produção de ópio no Afeganistão, publicado em setembro, em Viena, prevê que o cultivo de papoula aumente este ano 59%, e a produção de ópio, 49%.

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