
26 de agosto de 2011 | 06h36
A ONU exortou os dois lados do conflito na Líbia a adotar medidas para evitar atos de violência ou vingança.
O chamado foi feito à medida que surgem relatos de abusos e execuções sumárias, tanto do lado rebelde quanto de forças leais a Muamar Khadafi.
A ONU também concordou em liberar US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 2,4 bilhões) - que tinham sido congelados devido a sanções - para ajuda humanitária.
Na quinta-feira, jornalistas da BBC testemunharam sinais de massacres nos confrontos em Trípoli.
Em um hospital no distrito de Mitiga, o repórter Rupert Wingfield-Hayes contou 17 corpos, todos de militantes rebeldes. Segundo médicos, os rebeldes tinham sido presos pelas forças de Khadafi em uma escola. Os corpos apresentam marcas de tortura e de muitos disparos.
Há relatos de pelo menos uma execução sumária.
"Metade dos 17 corpos tinha marcas de tiro na nuca. Muitos estão desfigurados, com ferimentos nas pernas e nos braços que não têm explicação", disse um médico, que não se identificou.
Crimes de guerra
O chefe do escritório da BBC no Oriente Médio, Paul Danahar, viu corpos de dois soldados leais a Khadafi também com sinais de execução. Os dois militares foram mortos com as mãos amarradas junto às costas.
Um porta-voz da Cruz Vermelha disse à BBC que os dois lados mantêm centenas de prisioneiros. Robin Waudo pediu às partes envolvidas que respeitem os direitos de prisioneiros de guerra, dispostos em convenções internacionais.
A Anistia Internacional também denunciou execuções sumárias de prisioneiros nos dois lados do conflito.
O porta-voz de direitos humanos da ONU, Rupert Colville, disse que é difícil confirmar relatos de execuções sumárias e tortura, mas afirmou que denúncias do gênero serão investigadas pela Comissão de Inquérito da Líbia - órgão já existente.
"Exortamos todos em posições de autoridade na Líbia, incluindo comandantes militares, a tomar medidas para evitar que nenhum crime, ou ato de vingança, seja cometido", disse ele.
A ONU já havia afirmado que algumas ações militares poderiam ser classificadas como crimes de guerra e contra a humanidade.
No começo da semana, o presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafa Abdul Jalil, exortou rebeldes a não se envolver em atos de vingança contra combatentes pró-Khadafi, ameaçando renunciar se seu chamado não surtisse efeito.
Combates
A batalha continua em Trípoli, que está quase completamente sob controle rebelde. Na quinta-feira, houve intensos confrontos no bairro de Abu Salim, um dos poucos bastiões leais a Khadafi na capital.
Os rebeldes partiram para uma ofensiva contra a cidade natal de Khadafi, Sirte, mas enfrentam forte resistência. Há relatos de que aviões da Otan bombardearam a cidade na madrugada.
Em um discurso transmitido na quinta-feira por uma TV favorável a Khadafi, o líder líbio convocou tribos aliadas para "liberar Trípoli" e para capturar e matar "os ratos (inimigos), rua por rua, casa por casa".
Khadafi pediu ainda aos aliados que levassem suas "mulheres e crianças para purificar Trípoli".
O paradeiro do líder líbio ainda é desconhecido.BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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