ONU defende papel maior do Estado em países pobres

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Por JONATHAN LYNN
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O Estado deve exercer um papel maior nas políticas de desenvolvimento dos países mais pobres do mundo a fim de ajudá-los a sair da crise financeira global, disse uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) na quinta-feira. O relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) presume que o crescimento econômico na maioria dos 49 países menos desenvolvidos (LDCs, na sigla em inglês) não acompanhará o aumento da população este ano. "Esta é uma situação muito grave e para lidar com ela será necessária ação nacional e internacional", disse Charles Gore, economista da Unctad e um dos autores do relatório. "A crise expôs mais do que nunca as deficiências do atual paradigma de desenvolvimento", afirmou ele em entrevista coletiva. "Os LDCs deveriam encarar a crise como uma oportunidade para mudança." A Unctad diz que os países em desenvolvimento precisam ir além da reforma institucional e centralizar-se na boa "governança" - a forma como um país é governado. Isso deveria ser baseado na participação, na justiça, na honestidade, na responsabilidade por prestar contas, na transparência e na eficiência, afirma o relatório. Os governos deveriam usar a política fiscal como estímulo para combater a crise e investir em infraestrutura, com a ajuda estrangeira para reduzir os déficits, e encorajar o setor privado a mobilizar recursos, acrescenta. A Unctad afirmou que os países em desenvolvimento deveriam investir no aumento da produtividade agrícola para garantir a segurança alimentar, refletindo preocupações ilustradas pela promessa dos líderes do G8, feita na semana passada, de reservar 20 bilhões de dólares ao longo de três anos para ajudar os países pobres a alimentarem a sua população. O relatório também se volta para como os países em desenvolvimento podem usar a política industrial para fortalecer a indústria - tradicionalmente um ponto fraco das economias africanas - concentrando-se em tecnologia e no conhecimento para desenvolver setores com retorno promissor. COALIZÕES DO CRESCIMENTO Gore disse que os governos dos países em desenvolvimento estavam cada vez mais dispostos a adotar políticas que os possibilitassem a aumentar a produção e o emprego, e que eles poderiam introduzir rapidamente as abordagens defendidas pela Unctad, como estabelecer "coalizões de crescimento interno" entre os setores público e privado. Entre os países que estão fazendo isso, Ruanda formula uma estratégia nacional, Zâmbia identifica setores prioritários e competitivos, Bangladesh incrementa a produtividade agrícola e as exportações de produtos manufaturados e Malauí passou de importador a exportador de alimentos ao subsidiar fertilizantes, afirmou ele. O relatório é baseado em dados do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU prevendo que as economias dos 49 LDCs crescerão 2,7 por cento em 2009, em comparação com uma média de 7,4 por cento ao ano no período entre 2003 e 2008. À exceção de Bangladesh, responsável por cerca de 25 por cento da produção do grupo, o crescimento será de apenas 2,1 por cento, abaixo do crescimento da população, em razão da queda do PIB per capita, com os países africanos (que dependem mais das commodities) sendo mais duramente atingidos que os países da Ásia.

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