ONU envia soldadas à Libéria

Objetivo é mudar imagem das forças, envolvidas em violações

PUBLICIDADE

Por Jamil Chade
Atualização:

Elas são femininas, pintam os lábios antes de sair para o trabalho e portam armas pesadas. Trata-se do destacamento feminino do Exército indiano que acaba de desembarcar na Libéria para ajudar a ONU a manter a paz em um dos locais mais perigosos do mundo. Cansada dos casos cada vez mais freqüentes de estupro cometidos por seus soldados, a ONU começa a destacar mulheres em suas forças de paz espalhadas pelos vários continentes. Em Monróvia, capital da devastada Libéria, a ONU está testando o uso de mulheres para os trabalhos de manutenção do frágil acordo de paz e reconstrução no país. O Estado acompanhou as soldadas em uma de suas rondas pela cidade, que já começava a se rebelar contra os soldados da ONU. Em apenas um ano, foram registrados 11 casos estupros. Depois de quase uma década de golpes de Estado, guerra civil e mais de 200 mil mortos, a Libéria tenta voltar à normalidade. Sem qualquer infra-estrutura, o país é visto como um dos principais desafios da ONU, que está aos poucos transformando a Libéria em um campo de provas para uma série de estratégias nas áreas de educação, saúde, redução da pobreza, gestão pública e segurança. Em cooperação com o governo indiano, o contingente feminino será usado pela ONU para mudar a imagem das forças internacionais. A vida das soldadas, porém, não é fácil. Apenas 19 delas são solteiras e muitas têm filhos pequenos que ficaram na Índia. O batalhão permanecerá na Libéria por um ano, quando será substituído por outro, também de indianas. O dia-a-dia em Monróvia é arriscado, mesmo para soldados. Após o acordo de paz, os guerrilheiros não conseguem encontrar trabalho e o número de gangues explodiu em um ano. A capital hoje tem um dos maiores índices de homicídio do mundo e milhares de armas circulando entre a população. A comandante do batalhão afirma que até agora os liberianos não demonstraram qualquer discriminação em relação às soldadas. Ao final da ronda, elas retorna à caserna com o sentimento de dever cumprido. Como todos os dias, um jantar indiano as espera, preparado pelos únicos três homens do batalhão: os cozinheiros. J.C.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.